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Inter de Lages

Patrick Cruz

Uma joia em um cartão postal
O escritor uruguaio Eduardo Galeano ficou em dúvida sobre quem havia contado a história a ele. Talvez tivesse sido Osvaldo Soriano, uma suposição que fazia sentido: o episódio, afinal, deu-se na Argentina e envolvia futebol — e não apenas Soriano era argentino como chegou a ensaiar uma carreira nos campos antes de se lesionar e decidir virar escritor e jornalista.

Mas o importante é o causo em si, que Galeano relatou no lindíssimo e já clássico “Futebol ao Sol e à Sombra”. Morreu um torcedor do Boca Juniors, em Buenos Aires. Aquele torcedor havia passado a vida inteira odiando o River Plate, como era sua obrigação, mas no leito de agonia pediu que o envolvessem na bandeira inimiga. E assim pôde comemorar, num último suspiro:

— Morre um deles.

Um clube de futebol é a soma dos anseios e limitações, dos esforços e da inércia, do planejamento e da teimosia, da inteligência e da burrice e de tudo de bom e ruim que têm aqueles que se importam com uma determinada equipe.

Vestir a camisa é ser o clube (assim como vestir a do adversário, no leito de morte, para simular a redução das forças rivais, também é). Os jogadores pisam no gramado para disputar partidas e campeonatos, mas são os torcedores que dão sentido às cores e ao escudo.

Torcedores de clubes supostamente “pequenos” têm uma responsabilidade ainda maior com o objeto de sua paixão. E a questão é matemática. Os tais “pequenos” têm menos torcedores do que os autoproclamados “grandes”. Assim, cada um de seus adeptos é um posto avançado a segurar o estandarte do clube e reclamar para si novos domínios territoriais.

É uma luta inglória, que muitas vezes o torcedor do “pequeno” encara sozinho. Não há turba em volta para gritar junto “vaminvadir, vaminvadir!”. Nem um mísero Sancho Pança para cerrar microfileira com nosso Quixote.

A propósito, vida de torcedor de clube “grande” é fácil demais. O time só disputa competição de primeira linha, o dinheiro de patrocínio e direito de transmissão é gordo, os jogadores do elenco são sempre o que há de melhor no mercado, a cobertura na imprensa é farta, os gramados são verdes e lisinhos como mesa de sinuca, o calendário dura o ano todo. Torcer com tanta coisa para facilitar a vida é coisa de preguiçoso.

Nos últimos anos, o Henningsvaer ganhou a fama de ser “o estádio mais bonito do mundo”, o que diz menos sobre o estádio em si e mais sobre sua localização: encrustado numa ponta de rocha no vilarejo de Henningsvaer, no arquipélago de Lofoten, no litoral norte da Noruega. É a catedral futebolística dos cartões postais.

Pois, no mais belo dos estádios, viu-se há poucos dias a mais bela das camisas. Fleumática, severa, imperativa, ela reclamou aquele território para o Inter de Lages.

Ahá, uhu, Henningsvaer é nosso.

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