Empresário de Lages é vítima de xenofobia em Balneário Camboriú
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O empresário Moha é lageano, descendente de libanês
Mohamad Hussein Abou Wadi, 44 anos, nasceu em Lages e é descendente de libaneses. Na cidade serrana, cresceu, conquistou amigos e construiu uma carreira. Há alguns anos, foi para balneário Camboriú, onde, atualmente, é o diretor-presidente da Uniavan, universidade particular que tem ganhado grande destaque pela atuação.
Nesta semana, Moha, como é conhecido, foi vítima de xenofobia. As ofensas vieram através de um post no Instagram, feito pelo colega de profissão e também de instituição, o dentista Claudio Piccoli, vice-presidente do Conselho Administrativo da Uniavan. No texto publicado, ele se referiu a Moha como 'forasteiro lageano ou libanês'.
O post recebeu manifestações de apoio às ideias do dentista, mas também gerou reação negativa, principalmente pela comunidade libanesa e por lageanos, que se mobilizaram em defesa do conterrâneo.
O Folha da Serra entrou em contato com Claudio Piccoli, através da sua rede social e ele respondeu que "acerca do comentário realizado por mim na rede social Instagram, ressalto que em nenhum momento tive o intuito de praticar ato de xenofobia em face de qualquer pessoa. O meu comentário está estritamente ligado à conduta adotada pelo diretor-presidente da Uniavan, em obstar a formação do Conselho de Administração por mais de seis meses, inclusive proibindo a entrada dos demais acionistas na sede da companhia. É importante ressaltar que tal situação gerou um estresse psicológico a todos os envolvidos. Por fim, quero pedir desculpas a qualquer pessoa que tenha se sentido ofendida ou insultada com meu comentário".
Piccoli é nascido em Itajaí, criado em Balneário Camboriú e, segundo ele, foi o responsável pela fundação da Área da Saúde da Univan, com o curso de odontologia.
Por sua vez, Moha falou sobre como se sentiu quando recebeu as ofensas. "Quando retornei do Líbano para o Brasil, sofri muito bullying por não entender e falar bem o Português. Jamais imaginei que isso aconteceria novamente na minha vida. Com certeza, fiquei muito chateado e me senti muito humilhado. Ainda mais falando dos libaneses e dos lageanos, que foram dois povos que me acolheram muito bem."
Por considerar que as ofensas não atingem apenas a ele, e sim aos lageanos e à comunidade libanesa, Moha pretende levar o caso adiante na justiça. A xenofobia refere-se ao sentimento de hostilidade e ódio manifestado contra pessoas estrangeiras e ocorre contra diferentes grupos em todo o planeta. No Brasil, o artigo 140, § 3º, do Código Penal, estabelece pena de 1 a 3 anos de prisão ("reclusão"), além de multa, para as injúrias motivadas por "elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem, ou à condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".
Palavra da universidade
Sobre os fatos, a universidade encaminhou a seguinte nota:
"O Centro Universitário Avantis (UniAvan) repudia os atos praticados na data de 13/7 e declara que não se trata de um posicionamento oficial da instituição de ensino, mas sim um ato isolado e pessoal do acionista. O autor da mensagem não ocupa atividade pedagógica no Centro Universitário, sendo apenas acionista e membro do Conselho Administrativo da UniAvan."
Entrevista com Mohamad Hussein Abou Wadi
Folha da Serra_ Fale um pouco dos seus pais, o motivo que os trouxe ao Brasil (e a Lages), qual a contribuição deles para a cidade?
Mohamad Hussein Abou Wadi _Sou filho de pai libanês e mãe lageana. Meu pai veio para o Brasil para sair da guerra do Líbano e tentar uma vida melhor aqui. Escolheu Lages por ser a capital econômica do Estado e também por já ter uma irmã morando na cidade. Meu pai trabalhou por quase 50 anos no comércio de Lages, começou pequeno e foi crescendo, oportunizando vagas de emprego para muita gente.
Meu pai, junto à comunidade libanesa, fundou a Mesquista do Líbano, uma comunidade muçulmana importante, umas das poucas do sul do país, em Lages.
Fale um pouco da sua vida (infância e adolescência) em Lages.
Nasci em Lages, fui morar no Líbano ainda criança e com 12 anos retornei para o Brasil. Minhas raízes são lageanas e meus maiores colegas de infância também são da região.
Qual sua formação?
Graduação em Odontologia, mestrado, especialização em Prótese e Implantodontia, mestrado em Ortodontia e doutorado em Ortodontia.
Depois de formado, você instalou, aqui, uma clínica e um instituto de formação de dentistas. Fale um pouco a respeito.
Como não tinha ninguém na minha família que atuasse na área da odontologia, tive que procurar inovar para conseguir sobreviver na profissão. Montei a minha primeira clínica em Lages/SC em 2000 e logo vi a necessidade de ampliar para o instituto de pós-graduação na área odontológica, já que esse ensino era muito limitado a outras regiões.
O que o levou a Balneário Camboriú e como chegou à Uniavan?
Vim para Balneário Camboriú na busca de ampliar meus negócios e quando ingressei na UniAvan, já possuía um instituto de pós-graduação na área odontológica, que, inclusive, ajudou na autorização do curso de odontologia da UniAvan na época.
Qual sua contribuição para a Uniavan?
Em 2013, iniciei os trabalhos na UniAvan dando o "start" no curso de Odontologia. Logo, em 2014, assumi a presidência da empresa, cargo que estou ocupando até hoje. Minha maior meta para a UniAvan sempre foi democratizar o ensino de qualidade para todos, com um valor acessível. Nesses últimos anos, conseguimos atingir o status da melhor faculdade privada de Santa Catarina com conceito 5 do MEC, além de trazer outros projetos pioneiros, como laboratório digital, instituto de treinamento em cadáveres frescos, instituto de pós-graduação na área da Medicina, o que tornou a UniAvan referência na área da saúde.
Sobre o post do senhor Claudio Piccoli? Você entende o que o levou a fazer tais declarações?
Após o falecimento do senhor Artenir Werner, sócio fundador da UniAvan, houve divergências por parte de alguns sócios que acabaram misturando os negócios com o equilíbrio emocional e, por isso, transpareceu nas redes sociais. Desse modo, meu intuito é tornar a UniAvan cada vez mais profissional, tenho certeza que vai alavancar muito mais no mercado da educação.
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