Santa Catarina responde por 80% da produção nacional do mel de bracatinga. Sozinha, a Serra Catarinense garante a metade da produção brasileira (50%)
Gradativamente, o mercado nacional está consumindo mais mel. Apesar da situação positiva, o apicultor José Alceu Perão, de Lages, referência nacional quando o assunto é mel de bracatinga, preocupa-se com o futuro da produção deste tipo de mel.
Ele avalia que as florestas de bracatingas estão diminuindo e defende a implantação de um programa estadual para incentivar o plantio de novas árvores, como já ocorre com outras culturas.
Perão explica que, aos poucos, as pessoas estão despertando para as características nutricionais e medicinais dos diversos tipos de méis.
“O consumo está aumentando. O mel é muito saudável. É o primeiro adoçante utilizado pela humanidade desde a antiguidade, quando não existia o açúcar. Acredito que o aumento do consumo no mercado interno, reduzirá a necessidade de exportação para a Alemanha.”
Existem vários tipos de méis florais (produzidos por abelhas que se alimentam do néctar de flores), mas apenas um a base de bracatinga, que vem da seiva da árvore, retirada por um inseto em um processo natural de produção em série.
Esse mel é produzido em Santa Catarina, principalmente na Serra Catarinense, que responde por 50% da produção nacional, e em menor quantidade no sul do Paraná e no Norte do Rio Grande do Sul.
Há 42 anos na atividade, Perão explica que extrai sua produção de 20 áreas arrendadas e em floresta própria. Nas áreas arrendadas ele não pode cultivar novas bracatingas.
Entre 15 e 20 anos de vida, esse tipo de árvore seca não produz mais seiva. “Se nada for feito, no futuro será muito difícil manter a produção.
Nas minhas terras, renovo constantemente a floresta, mas essa prática deveria ser incentivada em toda a região. Deveria haver um programa de distribuição de mudas, já que somos o maior produtor nacional”, comenta.
Outra limitação é que as bracatingas crescem somente em áreas de reflorestamento ou de florestas onde não há atividade pecuária. Como são leguminosas, atraem facilmente a atenção do gado que come as mudas.
Único no mundo, mel tem indicação geográfica
Pouco conhecido no Brasil, mas muito valorizado no exterior, o mel de bracatinga é o carro-chefe de Perão. Ele já conquistou o Selo Arte, o que possibilitou à empresa dele, a São Braz, comercializar em todo o Brasil, e também o selo da Indicação Geográfica (IG), com a inscrição de número 1.
Este selo é a garantia que o mel de bracatinga São Braz é da Serra Catarinense, região que responde por 50% da produção nacional.
Em 2022, a TV Brasil fez uma reportagem especial sobre o mel de melato e Perão foi um dos entrevistados pelos jornalistas Carina Dourado e Tiago Bittencourt.
A reportagem também foi publicada na forma de texto no portal da Agência Brasil em 30 de outubro de 2022. Nela, fica claro como esse tipo de mel é um produto singular.
Na reportagem, Perão explicou que o mel é produzido somente nos anos pares. Nos anos ímpares, os apicultores aproveitam para parasitar novas árvores.
“Se você quer levar esses ovos da cochonilha para outra bracatinga, tem que remover parte da casca da árvore parasitada, com ovos que a gente não vê, para eclodir numa outra árvore e ela começar a produzir também”, esclareceu o apicultor José Alceu Perão.
Ele também lembrou que as árvores têm um ciclo de vida bem definido, de sete a oito anos para soltar a seiva e, entre 15 e 20 anos, já secam.
Todas essas características - nutricionais, de tempo e o selo de indicação geográfica - fazem com que o mel de bracatinga tenha um valor bem acima do mel floral.
“Isso é único no mundo, não se tem conhecimento de um mel idêntico a esse”, contou Perão. Cada colmeia produz entre 20 a 60 quilos por ano.
Como é feito
A matéria-prima do melato da bracatinga vem da árvore que dá nome ao mel, extraída pela cochonilha, um parasita que, na maioria das vezes, é tratado como praga. Só que, neste caso, a cochonilha, que fica na casca da bracatinga, trabalha como uma operária dessa produção.
Ao digerir a seiva, expele um melato adocicado por longos fios brancos que saem do inseto, a parte visível nas árvores parasitadas por esse tipo de parasita. O melato atrai as abelhas, que o levam para as colmeias, onde é transformado em mel.
O resultado é um mel escuro, rico em minerais, que não cristaliza, anti-inflamatório e antioxidante, com mais oligossacarídeos (que atuam como fibras no organismo humano) e menos glicose e frutose, quando comparado ao mel floral.
O produto tem atraído a atenção estrangeira, que já percebeu seu potencial nutritivo, mas no próprio país ainda é uma novidade.
Só em anos pares
O mel de bracatinga, além de ter a restrição da região geográfica, também só é colhido durante um período curto de tempo: a cada dois anos.
Nos anos pares, durante cinco meses, entre janeiro e maio, a cochonilha está no último estágio de larva e é quando secreta mais melato.
Depois, ocorre o período de acasalamento e, nos anos ímpares, postura de ovos e todo o ciclo de desenvolvimento do inseto, onde não há a produção em quantidade suficiente para as abelhas coletarem o melato.
Fontes consultadas: Sebrae e Agência Brasil
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