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Durante o mês de março, o Jornal Folha da Serra publicará entrevistas com mulheres que respondem por setores e funções importantes para a sociedade, que superaram desafios e podem ser consideradas ícones, exemplos no seu campo de atuação.
De forma alguma ignoramos os problemas de discriminação de gênero e tantos outros que reduziram ou até impediram, ao longo da história, a participação da mulher em cargos e profissões, mas optamos em mostrar, por meio de exemplos, que é possível.
A entrevistada desta semana é Luciana Rodermel, delegada regional de Polícia Civil.
Nomeada na gestão de Carlos Moisés como delegada regional da Polícia Civil, Luciana Rodermel foi mantida no cargo pelo atual governador, Jorginho Mello, situação incomum em trocas de governos. Ela avalia que várias ações realizadas nos últimos meses pesaram para essa decisão e atribui parte desse mérito à equipe da polícia civil na região. Luciana fala também do combate ao crime, tráfico de drogas e da relação da polícia com a comunidade
Dentre as ações ela aponta a implantação da Delegacia Virtual que facilita o acesso do cidadão aos serviços da Polícia Civil. “A Polícia Civil está atenta e procura, de alguma forma, atender os anseios da comunidade. Isso sempre foi primordial, tanto na gestão do governo anterior como nessa. Realizamos várias ações e o trabalho policial de investigação que culminou na elucidação de crimes. Todos os homicídios foram solucionados. Estamos com um saldo muito positivo.”
Dentre as ações, está o combate aos crimes virtuais, modalidade que cresceu muito nos últimos tempos, principalmente envolvendo as redes sociais. O principal tipo de crime é o estelionato. Para manter a equipe atualizada e conseguir localizar os criminosos, integrantes da equipe participam de cursos à distância ministrados pela Polícia Civil de Florianópolis.
Outra ação foi trazer um delegado que atua na fronteira do estado e é especializado em crimes rurais. Ele ministrou palestra para pessoas que residem na área rural. “Dentre outras coisas, explicou a importância de se fazer o registro do crime. Desta forma conseguimos ter uma estatística, dados que apontarão os locais mais visados e permitirão a investigação e a captura dos criminosos.
A comunidade é fundamental
Como o efetivo da Polícia Civil é deficitário, segundo Rodermel no último concurso a regional recebeu apenas um escrivão e um agente, a participação da população é fundamental para o êxito da polícia. A Delegacia Virtual funciona muito bem. A comunidade se adaptou bem a ela. Também pode denunciar pelo telefone, nas delegacias ou em contato com um policial. O sigilo é garantido. “São diversas formas de provas, mas a informação da população acaba sendo o que liga a prova técnica ao fato. É muito importante,” argumenta a delegada.
Trotes - Como a Polícia Civil abriu vários canais de contato, ficou um campo fértil para os trotes. “Precisamos conscientizar a população. Averiguamos todas as denúncias. Não temos como saber qual é verdadeira ou falsa. Às vezes, quando se averigua um trote, uma mentira, deixa de atender ou retarda o atendimento a quem realmente precisa de forma urgente,” explica Rodermel dizendo que a comunidade precisa se conscientizar que o serviço público somente será de qualidade quando ela fizer um uso de qualidade. “É uma via de mão dupla.”
Tráfico de drogas
Em função de ser cortada por duas rodovias federais e várias estaduais, a Serra Catarinense sempre foi conhecida como rota para o transporte de drogas. Recentemente, a delegada regional percebeu também o aumento do tráfico em algumas cidades, a exemplo de Lages onde várias apreensões e prisões já foram realizadas. Ela diz que a Polícia Civil não pode fechar os olhos para o fato que o tráfico aumentou na região.
Um exemplo é Bom Retiro onde vários homicídios, prisões e apreensões já foram realizadas. Lá, a polícia não mantém um delegado efetivo e a investigação e o combate foram realizados com o apoio dos delegados da Delegacia de Investigação Criminal (DIC) de Lages. “Identificamos essas pessoas, mais de 40 estão presas e muitas estão sendo processadas. Desta forma, mudamos o panorama do município que estava desassistido de investigação.”
Ela lembra de alguns crimes violentos. Um deles foi o duplo homicídio em Bocaina do Sul. Na verdade, o crime foi um desfecho do tráfico em Bocaina do Sul. Essa situação ficou comprovada com a prisão dos bandidos.
Questionada sobre o que motivou o aumento do tráfico de drogas em Bom Retiro, a delegada acredita que o município é o primeiro da Serra Catarinense depois de Alfredo Wagner, que pertence à Grande Florianópolis. Possivelmente, os traficantes do litoral se instalam em Bom Retiro na tentativa de expandir o tráfico na Serra Catarinense.
Reforma da delegacia
Desde que a regional de polícia saiu da delegacia do Centro, o primeiro andar do prédio permanece vazio.” Vamos reformar para atender a comunidade com mais acessibilidade e conforto.” Lá permanecem a Delegacia da Mulher, o 1º DP e a Central de Polícia, que atualmente funcionam em espaço apertado. Com a reforma, o acesso principal do público será pela praça às margens da Rua Lauro Müller.
Atualmente, o acesso é pela Central de Polícia. “Algumas vezes tem alguma pessoa sendo detida, situação que pode causar algum dissabor para a comunidade,” explica a delegada.
A mulher na polícia
Luciana Rodermel atua como policial civil há mais de 20 anos. Recorda que muita coisa mudou em duas décadas e que em função dos concursos públicos as mulheres tiveram mais oportunidade na corporação. Em relação ao tratamento dispensado a elas, explica que “a mulher na polícia é mais um policial. Não há tratamento diferenciado. Não é o gênero da pessoa que vai influenciar no resultado do trabalho. Temos excelentes profissionais mulheres e excelentes profissionais homens. É uma questão de vocação profissional. As mulheres vem para somar, para equilibrar, mas queremos um tratamento igualitário. Quando eu entrei, a mais de 20 anos, se falava: será que vai dar conta. Mas atualmente se percebeu que não existe mais profissão exclusiva para homens.”
Somente na Delegacia da Mulher há essa diferenciação em função do gênero, porque a orientação é para que as vítimas de violência sejam atendidas por mulheres. É por isso também que Luciana Rodermel atua como delegada daquela delegacia. “Sou a única delegada mulher em Lages, espero que venham outras,” conclui.
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