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Lages 258 anos

A importância das cadernetas para a economia

  • Lages 258 anos

Neste mês, Lages completa 258 anos de fundação. Em suas páginas, o Folha da Serra vai relembrar de fatos e situações pitorescas, para não se dizer curiosas, que foram extremamente importantes para a construção de um dos principais municípios de Santa Catarina

É notório que a tecnologia fez sucumbir vários hábitos e práticas centenárias. O que dizer sobre a caderneta para pessoas que sequer conheceram telefones públicos e suas tradicionais fichas? Mas o tema deste texto é ainda mais antigo. Para simplificar, elas, as cadernetas, eram os “cartões de crédito” utilizados pelos comerciantes em uma época em que nem se ouvia falar de energia elétrica. Depois da compra realizada, o total gasto era anotado em duas cadernetas, uma ficava no estabelecimento e outra com o cliente. Um prazo era estabelecido para o pagamento, que geralmente era cumprido à risca. Quando isso não acontecia o comerciante cobrava, cada um a seu modo. Assim funcionava o popular “fiado”, mas sem fiador.  

Essa prática foi fundamental para o desenvolvimento de Lages, que desde de seus primórdios, há quase 260 anos, sempre teve no Comércio um dos seus pilares econômicos. Atualmente esse método pode ser impensado mas, na época, o número de comércio era bem pequeno para atender um minguado povoado, onde todos se conheciam pelo nome, situação que estreitava relações. Como não existia um banco, uma financiadora que garantisse o pagamento, acredita-se na palavra e como dizem os antigos “no fio do bigode”, alusão ao compromisso firmado por pessoas sérias. 

O método funcionava tão bem que persistiu por quase dois séculos. Enfraqueceu na década de 1960 com a criação de entidades, a exemplo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), que validou o método dos carnês. Mas a caderneta ainda podia ser encontrada em lugares parcos até o início dos anos 2000. 

Como a cidade cresceu, a prática permaneceu em mercearias e mercados de bairros, locais onde ainda era possível essa relação mais pessoal entre comerciante e cliente.  

Por mais rudimentar que possa parecer, tratava-se de um sistema que permitia movimentar a economia. Vale lembrar que a maioria dos clientes tinha renda mensal ou quando vendia produtos agrícolas, mas consumia todas as semanas. Como as datas de vencimento eram variadas, a caderneta garantia faturamento diário ao comerciante. 

 

Voos às cegas até Lages

A década era 1950 e, em função da exploração da araucária, Lages era a principal economia de Santa Catarina. Superava até Joinville e Blumenau, municípios que hoje figuram entre as principais potências estaduais. Tanta riqueza exigia rapidez no transporte e as aeronaves pousavam onde atualmente é o terreno da Uniplac. A este fato se atribui o nome de Aero Clube à boate que existe no Bairro Universitário. 

Os voos eram diários, partindo principalmente do Rio de Janeiro e São Paulo, mas nem tudo eram rosas. Como não existia navegação por satélite, conhecida pela sigla de GPS, a única ferramenta dos pilotos era a bússola. 

Desta forma, imagine voar a noite e pousar com chuva ou cerração, quando não eram os dois fenômenos juntos. Um desses pilotos foi o saudoso Coronel Sell Wagner, que inclusive contribuiu para o projeto do Aeroporto Regional do Planalto, em Correia Pinto. Mas esta é outra história. 

Sell Wagner contava que decolava do Rio de Janeiro com um avião modelo Douglas DC3, um dos maiores da época, utilizado para o transporte de cargas e passageiros. A bússola apontava o caminho e eles sabiam a distância em quilômetros entre as duas cidades. “A gente calculava o tempo de voo de acordo com a velocidade média. Quando imaginávamos que estávamos perto, baixava a aeronave em busca de um ponto de referência. Geralmente dava certo na primeira tentativa,” afirmava.  


Três empresas de aviação

De acordo com o jornalista Névio Fernandes, em texto publicado no “250 Anos, Lages Tradição e Inovação,” do Jornal Correio Lageano, Lages viveu seu período áureo em relação à aviação comercial entre as décadas de 1950 e 1960. Chegou a ser servida por três empresas: a Consórcio TAC, Cruzeiro do Sul e Varig. Por último foi atendida pela Real Aerovias. 

Segundo Névio, as empresas mantinham voos diários para Florianópolis, Itajaí, Paranaguá, Santos, São Paulo, Caxias do Sul e Porto Alegre. Para os lageanos, a TAC era a mais dinâmica, porque tinha voos até para Joaçaba. “Todos os voos saiam lotados. Presidentes, ministros e governadores desembarcavam em Lages. Uma curiosidade eram os taxis particulares, que as empresas usavam para buscar os passageiros em suas casas,” relatou o jornalista. 

Acervo de Walter Hoeschl / Divulgação


Cestos com galinhas

No mesmo texto, Névio Fernandes contou que mesmo antes dos aviões, o transporte de passageiros fluia bem em ônibus. Não existiam rodovias pavimentadas e os veículos eram pequenos, altos e pouco confortáveis. Não incomum ficar na estrada em função do barro ou quebra mecânica. Comum era as pessoas transportarem cargas, como sacos de grãos e até galinhas vivas, que eram trancadas em cestos de vime. 

Uma das últimas rodovias pavimentadas na região foi a BR-282, inicialmente entre Lages e São José do Cerrito e depois até a cidade de Vargem, finalmente ligando a Serra a Campos Novos. Muitas histórias de veículos encalhados foram registradas naquela terra vermelha, que se transformava em lama a qualquer chuva. Lembranças bem viva na mente de muitos serranos. 


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