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Inter de Lages

Foi-se um herói

“Estou tentando não deixar morrer 91 anos de história”, disse Gilmar Rosso, o presidente do Gaúcho de Passo Fundo. “Se você não quiser me ajudar, paciência, mas eu vou até pela via judicial para botar o Gaúcho em campo”.

O dirigente deu a declaração em 2010, em reunião em que pretendia inscrever o clube para disputar a Segundona do estadual do Rio Grande do Sul daquela temporada.

O alvo daquela fala convicta era Francisco Novelletto, presidente da entidade, que encerrou o encontro com um ultimato: “O Gaúcho tem uma semana para arranjar um estádio”.

Parecia o fim de linha para o clube. O Gaúcho estava em espiral descendente desde 2007, ano em que foi rebaixado no estadual e perdeu seu estádio, o Wolmar Salton, alvo de penhora por decisão judicial.

Nos planos de Rosso, 2010 seria o ano do retorno aos gramados. Já os fatos, indícios e todas as forças do universo, da terra e do além, sugeriam que aquele seria o adeus.

Dane-se o universo. Aquele não foi o fim
Rosso reuniu em torno dele alguns outros sonhadores, que ajudaram como podiam. O Gaúcho fez correr uma caixinha de doações para receber a colaboração de torcedores dispostos a ajudar na luta contra os moinhos de vento. No campo, médico e preparador físico da equipe chegaram a atuar como gandulas.

“Por mais difícil que tenha sido, me emocionei com aquela cena”, contou o então presidente ao blog Impedimento, hoje inativo.

“Era um médico renomado e um professor universitário de coletes, repondo a bola para o goleiro do Gaúcho”. Em 2011, na falta de estádio e escritórios, Rosso transformou um cômodo de sua própria casa em sede provisória do clube. Ele seguiu na presidência do Gaúcho até 2018.

O clube ainda não conseguiu retornar à elite do estadual, onde estava em 2007, quando as nuvens negras montaram acampamento sobre sua cabeça, mas tem dado passos em frente desde então.

Em 2016, o Gaúcho inaugurou um novo estádio próprio, que recebeu o mesmo nome do anterior, mas que atende também por Be8 Arena (foto), graças a um acordo com a patrocinadora Be8, a maior fabricante de biodiesel do país.

Entrevistei Gilmar Rosso em 2014 para uma reportagem para o jornal Valor Econômico sobre as dificuldades que se vive nos subterrâneos do futebol brasileiro.

É o ambiente em que circulam o Gaúcho e o Inter de Lages, sobre o qual conversei com ele. Rosso emocionou-se, e eu, esquecendo momentaneamente a sobriedade que a profissão exige, também.

Nesta semana, compromissos profissionais me levaram a Passo Fundo. Fiz planos de encaixar na agenda de trabalho um encontro com o Gilmar Rosso, mas, no caminho, descobri, com tristeza, que o ex-presidente morreu em julho do ano passado, aos 65 anos.

Hoje em dia, qualquer cabeça de bagre recebe louvas de craque, qualquer desqualificado vira lenda, mito, nome de rua. É um desrespeito com o bom senso e também com o idioma.

Se o mundo fosse justo, o futebol brasileiro pararia o que está fazendo agora para respeitar um minuto de silêncio e confeccionar uma capa de herói para Gilmar Rosso, o homem que não deixou um clube de futebol morrer.

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