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Patrick Cruz

Inter - 75 anos

O Inter do amanhã já nasceu

Esquecer é um processo natural e, como já constataram os cientistas, também essencial para se ter uma vida saudável. Nosso cérebro entraria em colapso se guardássemos indefinidamente lembranças detalhadas e em alta resolução de todas as experiências que tivéssemos ao longo da vida. A memória total seria não uma dádiva, e sim um fardo extenuante e, por fim, enlouquecedor.

Mas, a despeito das contra-indicações, talvez muitos de nós sucumbissemos à tentação de ter essa capacidade se ela fosse um artigo opcional em um hipotético bazar de superpoderes. Quem já fantasiou sobre tudo o que faria com um prêmio da Mega Sena há de entender o raciocínio.

Digamos que se pudesse ter memória vívida e perfeita de um acontecimento específico, de uma pessoa ou de uma fase da vida: qual você escolheria? Às vezes, como exercício lúdico ou simples distração, eu me faço essa pergunta. O Inter de Lages com frequência aparece nessas divagações.

Remontar, com riqueza de detalhes, a cronologia de minha relação com o clube revelaria algo sobre mim que hoje ignoro? Seria uma experiência divertida ou incômoda? O quanto os fatos reais diferem das memórias que guardei e das que construí durante esses anos todos? Essas perguntas aguçam minha curiosidade.

Eu costumo repetir esse exercício mental toda vez que vejo fotos e vídeos de bebês, crianças e adolescentes dependurados nos alambrados do Estádio Vidal Ramos Júnior em dias de jogos, vibrando com o time no estádio, abraçando o mascote Leão Baio ou balbuciando o hino do clube com seu português ainda vacilante da primeira infância.

Com redes sociais e smartphones, é bem mais provável que, na vida adulta, esses pequenos colorados tenham acesso às memórias dessas experiências. Mas, mesmo que as lembranças desses jovens torcedores esmoreçam com o tempo, o contato que tiveram com o clube até aqui já é um parte de quem eles são.

Nos últimos 11 anos, uma geração inteira de novos torcedores construiu memórias do Inter de Lages. Muitos foram ao estádio pela primeira vez graças ao clube da cidade, inúmeros viveram a alegria de comemorar um título ou um acesso no estádio, com o time logo ali, diante de seus olhos. A atual geração é digital, mas estou certo de que, para os próximos capítulos de suas vidas, o que realmente vai ficar impregnado em sua memória afetiva é materialização da alegria, ao vivo e a cores: o perfume da grama molhada no estádio, o cheiro de churrasquinho no Tio Vida, a felicidade que é gritar gol a plenos pulmões ao lado de centenas de desconhecidos.

Eu não sei como será o Inter de Lages do amanhã, mas sei que ele já nasceu. E isso é uma alegria por si só.

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