Em menos de um mês, duas ocorrências de granizo destruíram parte da produção agrícola do município
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Muitas pessoas se protegeram no posto de gasolina, às margens da BR-282
Lenny Jardim / Divulgação
Praticamente tudo o que estava nas lavouras ou pomares foi destruído pelo granizo, que assustou a população de Bom Retiro, na Serra Catarinense, no dia 2 de janeiro. A chuva de pedras se concentrou na Localidade de Santa Clara, a uns oito quilômetros de distância da cidade. Levantamentos da Epagri, concluídos nesta semana, apontam 580 hectares atingidos, mais de 60 famílias prejudicadas, 10 casas com telhados danificados e prejuízos na ordem de R$ 9,7 milhões.
Em menos de um mês, essa é a segunda vez que a mesma localidade foi atingida pelo granizo. A primeira ocorrência foi em 12 de dezembro. "Alguns agricultores replantaram as lavouras de tomate, as plantas estavam crescendo e voltaram a perder tudo," lamenta o secretário municipal de Agricultura, Verginio Moretti.
Ele comenta que o pedido para decretar estado de calamidade pública já está com a Defesa Civil. A expectativa era que a decisão fosse divulgada ainda esta semana. Com o decreto, a Prefeitura de Bom Retiro pode buscar recursos por meio de políticas públicas, tanto do Governo do Estado como do Governo Federal.
O secretário explica que muitos agricultores fizeram financiamentos para pode cultivar e não terão como honrar os pagamentos. Com o decreto, a prefeitura poderá tentar renegociar essas dívidas junto aos credores.
Bom Retiro é um município essencialmente agrícola e a Localidade de Santa Clara é uma das principais regiões produtoras. Cortada pela rodovia BR-282, a região está na divisa entre Bom Retiro e Urubici e concentra a produção de tomates, abóboras, maçãs, feijão de vagem, repolho, kiwi, uva, milho e soja.
Todas são culturas de grande valor agregado, principalmente o plantio de uvas, que são utilizadas para a produção de vinhos de altitude e de kiwi, fruta extremamente valorizada no mercado. Em alguns lugares, o quilo de kiwi é comercializado a mais de R$ 20,00.
Principal fonte de renda
A exemplo da maioria dos municípios da Serra Catarinense, Bom Retiro é essencialmente agrícola. Segundo dados do IBGE, o produto interno bruto (PIB) do município foi de R$ 272,6 milhões em 2018, último exercício divulgado. Deste valor, a agricultura respondeu com R$ 105 milhões. Para se ter uma ideia, o setor industrial ficou com R$ 19 milhões e o comércio/serviços com R$ 89 milhões.
O PIB mede a riqueza gerada em um município, estado ou país e serve como medida para ver o tamanho do impacto causado pelo granizo no município. "É a agricultura que movimenta os outros setores. Quando ela vai mal, o comércio sente os efeitos. São R$ 9 milhões a menos no município," explica o secretário municipal de Agricultura, Verginio Moretti.
Moretti também é agricultor e não lembra de duas ocorrências de granizo tão próximas. Disse que é algo inédito e que impacta muito na economia local, sem contar que amedronta a população.
Algumas hortaliças ainda podem ser cultivadas, mas no caso da uva, maçã, milho e soja não há o que fazer. São produtos colhidos apenas uma vez ao ano e com períodos de produção mais longos.
Frio virá mais cedo este ano, prevê Coutinho
Hoje o tempo continua abafado em Santa Catarina. A influência é de uma massa de ar quente e úmido. Haverá períodos de sol, outros com poucas nuvens e até de céu nublado. Mas o que chama a atenção nas informações postadas pelo engenheiro agrônomo, Ronaldo Coutinho do Prado, no site sãojoaquimonline/climaterra é de que o frio virá mais cedo este ano.
A primeira geada do ano em Santa Catarina foi registrada no primeiro dia do mês, em São Joaquim e coutinho prevê que o frio se intensifique, principalmente entre os meses de abril e maio. Desta forma, ele desaconselha o plantio ou replantio para a safra de verão. Diz que a janela está se fechando.
Coutinho cita como exemplo o milho silagem. O calor pode facilitar o surgimento das doenças de verão e, a partir de meados de fevereiro, pode ocorrer frio forte em áreas acima dos 500 ou 600 metros. Ou seja, em todos os municípios da Serra Catarinense. "No plantio do milho/feijão nas áreas acima dos 1000/1200 m, ainda terá algum risco de frio forte em alguns dias durante o verão, nas baixadas e fundo de vales (facilita a doenças de frio, mais no feijão e soja e o risco mínimo de geada bem isolada)", diz parte do texto postado no site.
Estiagem ainda não acabou
Ronaldo Coutinho volta a alertar que o período de estiagem ainda não acabou em Santa Catarina. Em dezembro, de forma geral foi bom para o estado. Em vários pontos teve até excesso de chuva. Porém a estiagem não acabou e apenas está "dormindo". A estiagem pode retornar entre fins de janeiro ou fevereiro em diante. Além do frio chegar mais cedo em 2021.
Desde 2018 Coutinho já previa períodos de estiagem para 2019, 2020 e 2021. Confirmando suas previsões, Santa Catarina enfrentou entre junho de 2019 e novembro de 2020 um longo período com chuvas abaixo da média, caracterizando a pior estiagem que atingiu o Estado desde 1957.
O problema pode retornar nos próximos meses, com chuvas mal distribuídas e em excesso em alguns períodos.
Dias com geada
135 dias /2016
124 dias/2020
123 dias/2010
120 dias/2017
106 dias/2018 (todos os meses com geada).
Fotos: Bom Retiro granizo (escolher a melhor)
Crédito: Lenny Jardim / Divulgação
Legenda:
Fazer coluna ou rodapé com as fotos: Bom Retiro Granizo Lavoura 2 , 9 , 10 , 10 , 17 , 21 (crédito das foto: Verginio Moretti / Divulgação)
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