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Maio Laranja

Combater a exploração sexual de crianças é dever de todos

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O dia 18 de maio é considerado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e, em 2023, seu significado foi estendido para todo o mês de maio, criando a campanha Maio Laranja contra o abuso infantil.

Os números de denúncias de abuso infantil no Brasil são alarmantes, com  mais de 119,8 mil denúncias entre os meses de janeiro e setembro (2023), de acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, e considerando que grande parte dos casos de abuso nem chegam a serem denunciados, é importante ressaltar o papel da conscientização na luta contra o abuso infantil.

Considerando que um grande número de crianças e adolescentes no Brasil enfrentam condições de vulnerabilidade, o que aumenta significativamente o risco de abuso infantil, é de extrema importância buscar conhecimento sobre os diferentes tipos de abuso e saber como identificá-los. Essa conscientização é fundamental para prevenir e combater esse problema de maneira eficaz.

Dados preocupantes apontam que 3 crianças são abusadas a cada hora no Brasil, sendo mais da metade crianças entre 1 e 5 anos, mostrando que a campanha surgiu da necessidade extrema de conscientização de toda a população sobre o combate ao abuso infantil.

O abuso sexual, o foco da campanha Maio Laranja, é apenas um dos tipos de abuso infantil que ameaçam as vidas de crianças todos os dias no Brasil, mas assim como todas as diferentes formas de abuso, as consequências podem ser permanentes.

Dê o primeiro passo e saiba mais sobre o abuso infantil. Buscar conhecimento é o começo para contribuir para essa luta:

Como reconhecer o abuso infantil?

Primeiramente, é importante destacar que os diferentes tipos de abuso infantil possuem efeitos permanentes na criança. Sofrer abuso afeta o desenvolvimento, podendo resultar em distúrbios e dificuldades de integração social.

É por isso que quanto mais cedo for identificado o abuso, maiores são as chances de que a criança possa crescer de forma saudável.

O abuso infantil pode se fazer evidente de forma direta, na forma de marcas, machucados e hematomas ao longo do corpo da criança. Alguns dos abusadores podem bater na criança em partes do corpo que não costumam ser expostas, como as costas e as coxas.

Hesitação em permitir com que a criança use trajes de banho em público, por exemplo, podem ser sinais de que os pais ou cuidadores estão escondendo abuso. Além disso, o comportamento da criança também pode ser um indicativo.

Apesar disso, é importante ressaltar que o abuso infantil nem sempre é fácil de ser identificado, principalmente quando se trata de abuso psicológico ou sexual. É preciso entender que os efeitos do abuso vão além do aspecto físico, podendo causar problemas como depressão e ansiedade nos pequenos

Crianças que mentem demasiadamente, tornam-se quietas demais em proximidade aos seus pais e cuidadores, são agressivas ou possuem dificuldades de se expressar apresentam sinais de que estão sendo abusadas. 

Todos esses comportamentos demonstram o medo extremo que a criança sente de desapontar os adultos à sua volta, um sinal de abuso infantil.

Por outro lado, a desnutrição e a falta de higiene também podem ser sinais de abuso, neste caso, a negligência. Crianças negligenciadas não se alimentam de maneira apropriada, não têm quem cuide de sua higiene e estão mais propensas a doenças, por falta de supervisão.

O que fazer para combater o abuso infantil?

Não apenas o Maio Laranja, mas durante o ano todo, é importante manter a vigilância para identificar casos de abuso infantil ao seu redor.

Como um exemplo, destacamos que mais de 93% dos casos de abuso sexual denunciados ocorrem por parte de uma pessoa conhecida da criança, como apontado pelo estudo da Rainn.

Para denunciar casos de abuso infantil, basta discar o número 100, de qualquer lugar do Brasil, para acessar o Disque Direitos Humanos. Compartilhe o número com pessoas próximas a você e faça sua parte para conscientizá-las da iniciativa

Denunciar é uma das maneiras mais efetivas de ajudar crianças que sofrem abuso, já que as autoridades serão capazes de garantir a segurança do pequeno.

Além disso, a educação é importante para evitar com que a criança seja incapaz de comunicar que sofreu abuso.

Fonte: ChildFund Brasil


"A cada hora, 3 crianças são abusadas no Brasil. Cerca de 51% têm entre 1 e 5 anos de idade."

ChildFund Brasil


Todos os anos, 500 mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil e há dados que sugerem que somente 7,5% dos dados cheguem a ser denunciados às autoridades, ou seja, estes números na verdade são muito maiores.

maiolaranja.org.br


“Eu morri naquela hora"

Maria (nome fictício*) 

* Em obediência ao ECA, vítimas de violência infantil não podem ser identificadas

No momento em que minha filha, em total desespero, já crescida e sem medo das ameaças, revelou os abusos que sofria…

Eu pensei em matá-lo, pensei em morrer, senti culpa, e ainda sinto até hoje. Eu me senti enganada por alguém que frequentava a minha casa e que era de nossa confiança…

Às vésperas do Natal, ela revelou o que seria a pior notícia que já tivemos até aqui…

Ela tinha sete anos quando teve a primeira crise de pânico, ainda na madrugada. Eu não sabia o que estava acontecendo, pouco tinha ouvido falar sobre essa síndrome, achei que minha filha era cardíaca e assim que o dia amanheceu eu liguei para a pediatra dela, falando dos sintomas. Lembro-me de ela ser grosseira, dizendo que não era hora pra minha filha estar acordada. Encerrou a ligação dizendo que precisava agendar consulta.

Resolvi marcar um cardiologista. A consulta aconteceu e nada foi diagnosticado. Chamei, novamente, a pediatra, que mandou eu levá-la a um neurologista…

Começava, ali, meu maior pesadelo, entre psicólogas e psiquiatras, até chegar ao neuro que me disse muito claramente: “nenhuma criança adoece psicologicamente, sem um grave acontecimento!”

Dos sete anos até os 12, eu tratei a minha filha como louca, achava, inclusive, que ela tinha um temperamento difícil, colocava de castigo, achava que ela fazia pra chamar atenção, que era mimada, brigava, ameaçava tirar brinquedos, a escola reclamando diariamente. Eu não reconhecia mais a minha pequena. Ela virou uma criança “problemática”.

Quando saíamos passear, ela pedia pra eu abaixar e cochichava no meu ouvido: “mamãe, fiz cocô na roupa!”

E eu sofria por ver ela adoecendo, perdendo peso, tendo pesadelos, dificuldades na aula, ausente em pensamentos, mal ouvia o que a gente falava e, agora, sujando as calças.

Perguntava se estava doente, se estava com dor, se tinha algo incomodando, se era medo de alguém, se algum coleguinha brigou.

A resposta era sempre a mesma: “Estou bem, mamãe!”

Somente aos 14 anos, a verdade apareceria, dita pela sua própria boca, ainda arredia, ainda fazendo terapia, mas falou tudo aquilo que ficou guardado por anos: “Mãe, o tio … ele tirava a minha roupa, me beijava, apertava e mostrava as partes íntimas dele pra mim! Isso começou quando eu tinha cinco aninhos, e só parou aos doze anos.”

Nada, absolutamente nada, estava debaixo dos meus pés. Era como se um precipício sem fim estivesse me engolindo.

Eu não conseguia respirar, eu queria gritar e a voz não saia, queria abraçá-la e era como se estivéssemos a quilômetros de distância, a minha cabeça rodava e eu perdi a audição, eu perdi o juízo!

Não era verdade, não podia ser!

Como eu ia aceitar que durante anos minha filha deu sinais, emitia sinais de socorro e eu não via?

Por que Deus permitiu isso, essa monstruosidade com uma criança?

Como eu poderia ser apoio da minha filha naquele momento, se quando eu perguntei ela não falou, se quando eu quis ajudar, ela disse que estava bem?

Como pode eu ter ensinado que ninguém deveria tocar no seu corpinho frágil, e ela não ter me obedecido?

A resposta era simples e uma só…

Ela era uma criança, apenas uma criança cheia de medo e vivendo sob ameaças, era assim que tudo isso acontecia…

Quase cinco anos se passaram desde o dia do relato da minha filha, que era diariamente molestada, praticamente debaixo do meu nariz, por alguém que acompanhou o crescimento dela desde o nascimento.

E ainda existe dor por aqui. Ainda choramos, a vida dela só acontece por conta dos medicamentos controlados, prescritos por uma psiquiatra que tem nos ajudado, incansavelmente, a passar por tudo isso.

Eu escolhi lutar por justiça, mas o molestador, um réu já condenado há 30 anos, teve o direito de recorrer em liberdade.

Um homem que está solto e que, certamente, está fazendo novas vítimas, mesmo com a denúncia de outras meninas.

E eu como mãe, escolhi enxugar as lágrimas. Perto dela, sou fortaleza, mas choro escondido no banheiro ou enquanto ninguém está olhando, pra poder aliviar o nó que ainda me sufoca.

Eu escolhi me fortalecer em oração e terapia, embora a culpa nunca mais tenha me deixado em paz.

Eu escolhi mudar de cidade e proteger minha filha daquilo que já estava feito e não poderia ser mudado.

Não tem um único dia, desde o momento de dormir e até o acordar no outro dia, que eu não sinta culpa pela monstruosidade que fizeram a ela.

O inimigo precisa da confiança da criança, precisa que essa criança seja passiva, precisa manter os pais dessa criança por perto, como amigos. Pedófilos são manipuladores, astutos e rápidos.

Parem de achar que é o estranho que vai fazer o mal. Não é assim na maioria dos casos de abusos. Os números mostram que 68% dos casos são praticados por familiares ou conhecidos e até mesmo pelos responsáveis pela criança.

Não deixem pra depois, não esperem a conta chegar. Se você desconfia de algo, comece a investigar e, se tiver certeza, denuncie!

Enquanto você se cala, outras crianças estão sendo atacadas, outros sonhos destruídos.

Protejam seus filhos!

Quem vê cara não vê o resto!

Maio Laranja é o mês escolhido como mês de conscientização do combate contra abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes.

Abrace essa causa, seja voz de quem é vítima!

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