<
logo RCN

A vitória das mulheres de farda

No filme Até o Limite da Honra, de 1997, uma oficial (Demi Moore) torna-se a única mulher em um grupo de elite da Marinha Americana e, no treinamento, terá de provar que pode suportar semanas de tortura física e emocional, já que a torcida era grande pelo seu fracasso. Apesar de ser uma obra de ficção, o filme retrata a dificuldade das mulheres para entrar em um meio dominado por homens. No Brasil, somente a partir de 1980 elas foram autorizadas a incorporar no Exército, e somente em alguns cargos, geralmente ligados ao setor de saúde. Na Polícia Militar de Santa Catarina, a autorização se deu a partir de 1983. Desde então, a participação e o interesse em seguir carreira tem aumentado.

O 1º Batalhão Ferroviário, localizado em Lages, conta com 29 mulheres, entre oficiais e sargentos. Elas atuam em várias funções técnicas, como em cargos de enfermagem, contabilidade, administrativo, jurídico, comunicação social, odontologia e medicina, ocupando até funções que geralmente eram designadas a homens no canteiro de obras da Operação Guaíba, como nas áreas de topografia e engenharia mecânica.

"Somos responsáveis pela manutenção dos ativos do batalhão, tanto nessa OM como em outras. Fazemos a manutenção de equipamentos e viaturas, preventiva, planejada e não planejada. Estar no Exército é gratificante e profissionalmente é uma grande oportunidade de crescimento. Como mulher em cargo de chefia é um grande desafio, é um cargo que dificilmente é ocupado por mulher. Quando se fala em manutenção e engenharia mecânica, cada vez mais temos conseguido nosso espaço e aqui no Exército não é diferente," comenta a segundo tenente Augusta, que trabalha na Operação Guaíba, feita pelo 1º Batalhão Ferroviário.

Na mesma obra está a 3º sargento Pereira, que trabalha como topógrafa junto a outras mulheres.Elas fazem as medições e levantamentos em obras rodoviárias. "Sou da primeira turma feminina de topografia, fui a primeira mulher que chegou no destacamento. Eu vim com medo, achei que seria muito difícil por ser um ambiente predominantemente masculino. Mas eu tive uma grande surpresa. Aprendi muito e pude desenvolver meu conhecimento. Sou muito respeitada pelos meus subordinados e superiores, sou tratada como qualquer sargento."

A participação de mulheres nos quadros do Exército Brasileiro é histórica. A primeira participação de uma mulher em combate ocorreu em 1823. Maria Quitéria de Jesus lutou pela manutenção da independência do Brasil, sendo considerada a primeira mulher a assentar praça em uma Unidade Militar. Entretanto, somente em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres oficialmente ingressaram no Exército Brasileiro.


No 1º Batalhão Ferroviário, em Lages, 29 mulheres realizam os mais diversos trabalhos, parte delas está nesta foto


Mas em tempos de paz a situação foi outra.

O ingresso de mulheres nas forças armadas lançou o debate acerca das relações entre segurança, defesa, estratégia e construções de gênero. No Brasil, a partir de 1980, as Forças Armadas passaram a incluir um segmento da sociedade que historicamente foi excluído ou menosprezado no âmbito militar devido às construções tradicionais de gênero, que relacionam o conceito de feminilidade com fragilidade e fraqueza. Assim, a inclusão deste grupo durante a década de 1980 no ordenamento militar de maneira mais participativa, e em posições que antes não eram acessíveis, denota a evolução na estrutura das forças armadas em um contexto pós-moderno brasileiro.

A cultura militar foi historicamente construída pautando-se em conceitos socialmente aceitos que utilizam como base ideológica os papéis de gênero na sociedade. Assim, a figura masculina é associada à força, robustez e ao dever de proteger e, em contrapartida, a figura feminina é associada à fragilidade e necessidade de receber proteção.

Há, portanto, uma construção social que sustenta as disparidades de gênero, observada por meio da dominação masculina, e a consequente subordinação da mulher em relação ao homem no âmbito político, econômico e social, não apenas no Brasil, mas na sociedade ocidental como um todo. Este quadro se manifesta por meio da dominação simbólica, ou seja, o exercício de poder de um grupo sobre outro sem a necessidade de força física. A dinâmica resultante desta dominação, cujas construções favorecem a masculinidade, permite a criação da divisão sexual do trabalho.

Fonte: https://www.gov.br/defesa/


A participação aumentou pouco

A década de 1990 representou um importante marco histórico, pois foi o momento a partir do qual foi permitido às mulheres ingressarem em escolas de formação relacionadas às organizações militares brasileiras. No ano de 1992, a Escola de Administração do Exército foi pioneira ao formar a primeira turma com 49 mulheres oficiais. Em 1997, o Instituto Militar de Engenharia adicionou 10 mulheres no Quadro de Engenheiros Militares. No mesmo ano, a Escola de Saúde do Exército permitiu a formação da primeira turma de mulheres oficiais e profissionais da saúde. Em 2001, foi permitida a entrada de mulheres no curso de Sargento da Saúde. No entanto, nenhum destes cargos possibilitou a ascensão ao posto máximo em termos de hierarquia das Forças Armadas, a patente de general de exército. A alocação feminina para posições de combate foi possível apenas em 2003, quando a Força Aérea Brasileira (FAB) permitiu a presença da primeira turma de mulheres em seus cursos de formação de oficiais. Na Marinha e no Exército, a presença de mulheres nesses cursos foi possível em 2012. Em 2014, as mulheres representavam cerca de 7% do contingente da força militar total do país e este número apresentou um aumento não muito considerável, atingindo a margem de 8% em 2016. Em 2019, segundo dados do Ministério da Defesa, a participação de mulheres na Marinha representa 10%, na Aeronáutica 13,78% e no Exército 3,2% do contingente da força militar .


Combatentes

Em agosto de 2012, a então presidente do Brasil, Dilma Rousseff, sancionou a Lei n. 12.705/2012, na qual dispôs que "o ingresso na linha militar bélica de ensino permitido a candidatos do sexo feminino deverá ser viabilizado em até 5 (cinco) anos a contar da data de publicação desta Lei" (BRASIL, 2012). Visando atender à legislação, em 2016, o Exército abriu edital para o ingresso de mulheres na área bélica. O curso para formar a oficial combatente foi realizado Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), que preparou as oficiais para o ingresso na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), escola responsável pela formação do oficial de carreira das Armas (Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicações), do Serviço de Intendência e do Quadro de Material Bélico. Para a formação de sargento combatente, por sua vez, o curso foi realizado na Organização Militar Corpo de Tropa e na Escola de Sargentos de Logística (EsSLog), responsável pelos cursos de Formação e Aperfeiçoamento de Sargentos de Material Bélico, Intendência, Topografia, Manutenção de Comunicações, Música e Saúde8 . As primeiras oficiais sargento concluíram o curso em 2018 e as oficiais combatentes irão concluir em 2021, de acordo com informações contidas no site da instituição.

Fonte: https://www.gov.br/defesa/


33 anos da mulher na PM de Santa Catarina

Em 1983, a Lei Estadual 6.209 determinava a criação de uma Corporação Feminina dentro da Polícia Militar de Santa Catarina. O coronel da reserva, Sidney Pacheco, responsável pelo processo de incorporação da mulher nos quartéis, lembra com emoção da luta que travou com colegas e superiores que não acreditavam na capacidade feminina como policial. "Os pais de muitas policiais me ligavam preocupados com a segurança de suas filhas, pessoas me perguntavam o que as mulheres fariam dentro do quartel", relata Pacheco.

O comandante-geral, Nazareno Marceneiro, destacou a evolução e humanização significativas que a presença feminina trouxe à Corporação, seja nas relações entre os policiais, seja no atendimento à população. Já o secretário de Segurança Pública, Cesar Augusto Grubba, abordou a questão do papel da mulher como policial, mãe e esposa, evidenciando sua grande capacidade de trabalho e organização, e a contribuição que estas qualidades representam ao trabalho da Segurança Pública.

A tenente-coronel Claudete Lehmkuhl, uma das três primeiras oficiais a se formarem na Polícia Militar catarinense, lembra com orgulho desta trajetória que teve a satisfação de participar desde o início. "Passa um filme pela minha cabeça ao lembrar tantas conquistas e dificuldades que enfrentamos. É uma grande alegria esta dupla comemoração, pois os 30 anos da Polícia Militar Feminina também representa meus trinta anos de carreira", conclui. Hoje Santa Catarina conta com quase 600 policiais militares femininas, entre oficiais e praças.


Solon Soares / Agência AL / Divulgação/O ano de 2014 foi um marco para a PM de Santa Catarina com

o ingresso de 202 mulheres, 29 vieram para Lages


Entrevista

Soldado Regiane

Folha da Serra_ Como você despertou seu interesse para a carreira militar?

Soldado Regiane_ Eu cursei Direito na Uniplac e estagiei na Delegacia Regional de Polícia, na época era um dos estágios que pagavam mais e eu precisava pagar a mensalidade. Durante os quatro anos que trabalhei lá decidi que a carreira policial era o que eu queria seguir! Na primeira oportunidade de concurso fui aprovada para soldado da PM, na ocasião foram abertas 10 vagas para a região e eu fiquei em 7º lugar. Além do trabalho na delegacia, eu tenho familiares na PM que fizeram eu ter certeza da escolha.


Quando divulgou a ideia, você teve o apoio de seu amigos, ou ouviu que não era uma função para você?

Sempre tive apoio dos amigos e familiares, todos sabiam que era o que eu queria e me deram muita força.


Como foi o período de treinamento?

O treinamento já inicia antes do concurso, para o teste físico eu sofri muito pois não estava acostumada a ter uma vida ativa. Durante os nove meses de curso de formação, muitos desafios foram superados. Perdi 13 quilos. Nosso Pelotão era formado por 26 homens e seis mulheres, então eles nos "puxavam" e todo o treinamento era igual para homens e mulheres. Sempre fomos respeitadas e a diferença física que há, não pode ser negada, mas não é impeditivo para alcançarmos nosso espaço onde quisermos.


Como você analisa a aceitação da população em ser atendida por uma policial?

Pelo fato de sermos bem treinadas e de sabermos nos posicionar, a aceitação é muito positiva, inclusive eu diria que quando estamos de serviço sentimos no olhar o quanto somos motivo de orgulho. É muito feliz o dia de serviço em que uma menina chega até nós e diz que sonha em ser policial. Nem sempre foi assim na PM, mas aos poucos as mulheres foram conquistando espaço e hoje, tanto a corporação quanto a sociedade, nos aceitam muito bem.


O que você diria para outras mulheres que querem seguir seu exemplo?

Eu diria que nada é impossível. Por mais difícil que seja, com muita dedicação nós podemos chegar aonde quisermos. Que não desistam de seus objetivos, sejam eles profissionais, políticos, religiosos. Se você quer ser motorista, policial, jornalista, mãe, dona de casa... Você pode.




Mais de 44 mil fiscalizações de medidas restritivas desde 25 de fevereiro Anterior

Mais de 44 mil fiscalizações de medidas restritivas desde 25 de fevereiro

Força de Segurança percorre pontos urbanos e rurais para assegurar cumprimento de decretos Próximo

Força de Segurança percorre pontos urbanos e rurais para assegurar cumprimento de decretos

Deixe seu comentário