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LAGES 256 ANOS

Turismo, um pé na cidade e outro no campo

  • Em alguns finais de semana, são realizadas até seis cavalgadas turísticas na Coxilha Rica

A origem do turismo em Lages, segundo registros históricos, aponta para as primeiras décadas do século XX. Basicamente, eventos voltados à agropecuária, bailes de Carnaval e festas sociais atraíam visitantes de várias partes do Brasil. Com o passar do tempo, alguns eventos evoluíram e outros deixaram de existir. Atualmente, a atenção do turista é dividida entre atrações urbanas e rurais. Mas, independentemente das mudanças, o turismo lageano passa por uma ótima fase, com vários investimentos e notoriedade internacional. O movimento econômico gerado pelo município neste setor é maior que a soma de todos os demais da Serra Catarinense. 

O jornalista Névio Fernandes (in memorian), escrevendo para o Correio Lageano, recordou que entre as décadas de 1950 e 1960, concentravam-se em Lages, no dia 1º de outubro, as festividades alusivas à passagem do Dia Pan Americano dos Caixeiros Viajantes (vendedores antigos que passavam de cidade em cidade). Era realizado um almoço no antigo Restaurante Napoli e uma carreata com centenas de veículos percorria as ruas da cidade. 

Esse evento certamente acabou, mas outros resistem ao tempo. A primeira Exposição Agropecuária, que deu origem à Expolages, ocorreu em 1920, no antigo Posto Zootecnológico, onde hoje está localizado o Ginásio Jones Minosso. O foco da exposição era mostrar a qualidade dos animais de Raças Européias, seja do continente ou da Grã-bretanha.

Em 1939 foi fundada a Associação Rural de Lages, que passou a organizar as exposições. Os eventos migraram para o Posto Zootécnico do Ministério da Agricultura, no Bairro Morro do Posto (Epagri), e desde 1950 ocorrem no Parque de Exposições Conta Dinheiro. Atualmente, a Expolages tornou-se uma multifeira, uma das maiores de Santa Catarina e une agropecuária, indústria, comércio e serviços.

Outro evento que persiste no tempo foi a Festa Nacional do Pinhão. A primeira edição foi realizada de forma modesta em 1973, no Calçadão da Praça João Costa. O idealizador, Aracy Paim, era secretário executivo da Serratur e queria realizar um evento para movimentar a cidade. Não sabia ele que a festa se tornaria uma das principais do Sul do Brasil.  

Com o tempo, outros eventos importantes surgiram, cada um com o seu público. Motoneve, Festival Internacional Música na Serra, Natal Felicidade, Sexta-feira Santa estão entre eles. 


A força do Turismo Rural

Na década de 1980, a Fazenda Pedras Brancas inovou ao receber turistas e compartilhar com eles as atividades comuns da lida do campo. Surgiu assim o turismo rural no Brasil. “As atividades turísticas no espaço rural brasileiro começaram a se desenvolver há aproximadamente 20 anos, e, ainda, confundem-se em seus múltiplos conceitos e verdades. E têm-se notícia, no município de Lages, Santa Catarina, do surgimento dos primeiros empreendimentos empresariais turísticos. Graças a esse movimento pioneiro, o município foi batizado de Capital Nacional do Turismo Rural, sendo lá, também, criada a Associação Brasileira de Turismo Rural – ABRATURR, associação representativa do segmento em âmbito nacional e uma das entidades membro do Conselho Nacional de Turismo do Ministério do Turismo.” Esse trecho extraído do site da Associação de Turismo Rural do Noroeste Paulista retrata bem a importância desta ação. 

Depois de algum tempo, o modelo arrefeceu, principalmente em função da concorrência externa que passou a oferecer mais atrações. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Lages, Álvaro Mondadori, de mais de uma dezena de propriedades, apenas as fazendas Pedras Brancas e Boqueirão mantêm a atividade, que atualmente volta a ganhar força, principalmente na Localidade da Coxilha Rica. 


O impacto positivo da pandemia

Em março de 2020 a pandemia paralisou todas as atividades no Brasil e no mundo. O turismo foi um dos setores mais impactados. Mas assim que foi possível, as pessoas voltaram a viajar, mas não queriam usar máscaras ou permanecer longos períodos com elas. “Onde eu vou? Avião, restaurante? Vou para o interior onde posso ficar sem máscara. Desde então, aumentou muito a visitação em Lages e em outros municípios da Serra Catarinense. Aqui o turista tem gastronomia, belezas naturais, histórias, campos, espaço aberto,” avalia Álvaro Mondadori.  

Ele afirma que Lages ainda não é um destino turístico, onde o ônibus para e as pessoas permanecem por longo tempo. Mas o setor está aquecido. Como maior centro comercial da região, Lages atrai pessoas que buscam desde uma gastronomia diferenciada, segmento que cresceu muito, até roupas mais elaboradas. É o turismo do consumo. Neste viés entram também as cervejarias artesanais que já possuem muitos adeptos. 


O efeito Coxilha Rica

Para o secretário, a bola da vez é a Coxilha Rica. “Esse nome soa especial, acho que é a palavra rica.” Para justificar, ele comenta que antes da pandemia cavalgadas turísticas eram realizadas a cada dois meses e meio, três meses. Agora, tem finais de semana com cinco cavalgadas, chega a faltar cavalos que são alugados das fazendas da localidade. “Temos empresas do nordeste, belgas, italianos, ingleses.” As limitações desta atividade, basicamente, são o clima e a condição física do turista para enfrentar horas no lombo do cavalo. 

Esses entraves não afetam os adeptos do turismo off road. São pessoas de grande poder aquisitivo que formam grupos, com veículos caros que permitem o acesso a terrenos acidentados. “Dorme-se no Le Canard e o passeio começa no Posto Presidente, em frente ao antigo Portugas. São famílias inteiras, crianças, idosos, no conforto do veículo indo para a Coxilha Rica. Diferente dos jeepeiros que enfrentam barro, o passeio é menos radical,” aponta Mondadori.

Essas pessoas gastam, em média de R$ 1.800 a R$ 3.000 por dia. O recurso é dividido entre quem organiza e na rede de apoio, que envolve as fazendas, postos de combustíveis, hotéis e restaurantes. Todos ganham no processo. 


A importância da integração

Para Álvaro Mondadori, o turismo somente acontece de forma integrada, envolvendo municípios vizinhos. Esse é o caso da Coxilha Rica, que faz parte de Capão Alto. “O Queijo & Cia, em Capão Alto, tem um hotel que vive lotado. Saem dali muitos passeios que passam pela Coxilha Rica e terminam em Lages. A nossa infraestrutura é a maior da região. São pessoas que acabam gastando também em Lages,” justifica. 

Ele conta que esteve com o prefeito de Capão Alto Tito Freitas, porque há muitos interesses em comum, a exemplo da sinalização de estradas e o passeio da maria fumaça, que envolve os dois municípios. O passeio de trem transporta 1.800 pessoas em três dias. Há a possibilidade de ir de trem, posar na Fazenda Lua Cheia e voltar de ônibus. Ou ir de ônibus e voltar de trem. Mais uma atração que envolve a Coxilha Rica e suas fazendas centenárias.  


Investimentos

As fazendas da Coxilha Rica investem para melhor atender o turista. Algumas até contrataram guias. Mas a demanda crescente também estimulou a ampliação do Hotel Le Canard, que ficará com 150 quartos e a instalação de um hotel da rede Mogano próximo do Posto Peruzzo, ao lado do Lages Garden Shopping. 

Na localidade do Salto Caveiras empreendedores constroem cabanas e oferecem passeio de lancha, passeio de jet Ski, caiaque e stand Up (prancha e remo). “Estamos em uma ótima fase. O turismo precisa ser estritamente privado. Cabe ao poder público incentivar, buscar alternativas, parcerias. Pesquisamos muito para trazer excursões, fazemos contatos para mostrar nosso potencial e está dando certo”, conclui o secretário.

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