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LAGES 256 ANOS

Há 110 anos, pecuária serrana foi resgatada

  • O gado franqueiro tem presença centenária em Lages

    MFRural / Divulgação

Pesquisas foram fundamentais para o melhoramento das raças e das pastagens, tornando Lages referência em gado de corte

Transportando gado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, os tropeiros foram determinantes para o surgimento dos municípios da Serra Catarinense e pela vocação da região pela pecuária. Mas o que poucos sabem, é que no início do século XX essa atividade estava ameaçada. A cruza de animais de mesmo sangue havia empobrecido a qualidade do rebanho. “A raça bovina brasileira havia chegado a um tal ponto de declínio geral que parecia irrecuperável”, afirmou Licurgo Costa em seu livro “O Continente das Lagens”. A implantação do Campo de Demonstração de Lages, em 1905 e sua transformação em Posto Zootécnico Federal de Lages em 1912 mudou essa realidade com a inserção de raças europeias e pesquisas de melhoramento de pastagens. Foi essa estrutura que deu origem a Epagri. 

Com cerca de 80 hectares de área, o Campo de Demonstração de Lages foi implantado pelo então governador lageano Vidal Ramos, em 24 de março de 1905. Ocupava a região próxima a onde está o Jockey Clube. Com a criação do Ministério da Agricultura, em 1909, em 1912 o Governo Federal decidiu criar estruturas em todo o Brasil para auxiliar a produção agropecuária. Foi desta forma que o Campo de Demonstração se transformou em Posto Zootécnico Federal, ocupando a área que está instalada a Epagri.


A situação do rebanho em 1900

As raças predominantes em Lages, no fim do século, eram o “Crioulo” ou “Franqueiro”, o “Caracu” e mestiços de Zebu. O Zebu foi introduzido no fim do século XIX Segundo Licurgo Costa (1980), a primeira contribuição para o cruzamento do gado “crioulo”, data de 1895, quando o Sr João Quintino Teixeira vendeu aos fazendeiros lageanos uma tropa de Zebus. Não esclarece o autor que raça, ou melhor, sub-raças zebuínas que compunham o lote, mas pelo tipo da produção dele originado parece que predominavam o Guzerá, Gir e uma raça já formada em Minas Gerais (Indubrasil), e ainda, exemplares da raça Guzerá, num dos maiores lotes por ele trazido de Uberaba, em dezembro de 1924. Segundo o autor, raro foi o fazendeiro de Lages, Campos Novos, Curitibanos e São Joaquim que dele não comprou os reprodutores originários do Bos indicus.

Segundo o autor, do Zebu cruzado com “Caracu” e o cruzado com o “fanqueiro”, o produto meio-sangue, aos cinco anos, dava em média 500 quilos de peso, enquanto o Crioulo, da mesma idade, apenas 350 quilos. O autor chama a atenção para o ponto de degeneração a que havia chegado o gado da região, atribuindo ao “Zebu” a quebra da consanguinidade que vinha prejudicando todo o rebanho local

Referência nacional e destaque mundial

Como resultado das pesquisas e incentivos econômicos, os pecuaristas passaram a investir em qualidade genética, que é comprovada a cada leilão de gado. Atualmente, Santa Catarina não é o maior produtor brasileiro, até em função da limitação de espaço, mas graças aos investimentos na Serra Catarinense, destaca-se com a melhor qualidade do rebanho. Desta forma, Lages se tornou produtora de terneiros, que são comercializados para outras regiões, onde ocorre a terminação (engorda para abate).

A Epagri e o Centro de Ciências Agroveterinárias de Lages (CAV/Udesc) têm papel fundamental neste processo. Além de pesquisas e programas que incentivaram o melhoramento das raças, foi graças a essas entidades que Lages entrou para a história mundial com o nascimento do primeiro clone bovino do mundo, em 2012. No dia 4 de setembro daquele ano nasceu a Brisa Serrana, um dos 50 animais do único rebanho puro e registrado da raça Flamenga no Brasil. Outra curiosidade é que ela foi gerada por uma fêmea estéril. 


Produção diversificada

Notadamente, a pecuária teve valor histórico na formação do município de Lages e continua em destaque na economia atual, mas, ao longo das décadas, outros animais também passaram a ser criados em solo lageano. Um exemplo são peixes como carpas e tilápias que, segundo o IBGE, no ano passado passavam das 100 mil unidades. 

O mesmo levantamento do IBGE destaca:

Produção Quant

Bois 89.800

Galináceos 75.000

Ovinos 9.920

Equinos 5.630

Suínos 2.600

Codornas 690

Bubalinos 176

Caprinos 65

Fonte: IBGE/2021


Agricultura ganha força a partir da década de 1970

Com a pecuária muito forte e inúmeras serrarias explorando as araucárias, a produção de alimentos ficou em segundo plano em Lages, durante quase dois séculos. Geralmente, as fazendas e sítios mantinham pequenas lavouras apenas para subsistência da família. Segundo o livro Continente das Lagens, de Licurgo Costa, a situação mudou a partir de 1970 com o “declínio da madeira”.

Nesta época, Lages tinha um território bem maior, incorporava ainda os municípios de Correia Pinto, Otacílio Costa, Painel, Capão Alto e outros. Era e ainda é o maior município em extensão de Santa Catarina. Mesmo assim, a agricultura familiar predominava com o plantio de milho, feijão, batatinha e até de arroz. Os alimentos eram destinados ao consumo humano e ração animal, no caso específico do milho. 


Novas tecnologias e culturas

A exemplo de outras atividades econômicas, a agricultura também é influenciada pela tecnologia. Com o passar do tempo serviços braçais passaram a ser executados por máquinas e a produção aumentou devido a sementes de alta qualidade e ao uso de fertilizantes. 

Um exemplo claro deste desenvolvimento pode ser observado em relação ao milho. Em 1970 foram colhidas 17.289 toneladas cultivadas em 18.534 hectares em Lages. Em 2014 a produção saltou para 22.500 toneladas em apenas 5 mil hectares. A produtividade que em 1970 era de 933 quilos por hectare saltou para 4,5 toneladas em 2014. 


Salto na produção de grãos

Nas últimas décadas, praticamente todos os municípios da Serra Catarinense passaram a investir na produção de grãos. Em Lages não foi diferente, mas o grande impulso do município ocorreu com a pavimentação da estrada que liga a Localidade de Vigia, na BR-116, em Capão Alto, com o interior da Localidade da Coxilha Rica. 

Antes mesmo do término da pavimentação, duas cooperativas já investiram em instalações e silagem para receber os grãos produzidos na região. Desde então a produção aumenta a cada ano. Segundo o IBGE, no ano passado o município produziu 46.800 toneladas de soja e a perspectiva deste ano é superar as 50 mil toneladas. 

Outra localidade que aumenta a produção a cada ano é a do Salto Caveiras. As lavouras se adaptaram muito bem nas margens do alagado da Usina Hidrelétrica do Salto.  


Produção de grãos

Item ha t

Feijão 1.000 2.400

Milho 4.000 36.000

Soja 12.000 46.800

Trigo 50 180

Fonte: IBGE/2021

 

Foto: Rebanho Franqueiro

Crédito: MFRural / Divulgação

Legenda: O gado franqueiro tem presença centenária em Lages

Foto: Flamenga 2

Crédito: Rural TECTV / Divulgação

Legenda: Raça flamenga foi a escolhida para produzir o primeiro clone bovino do mundo

Foto: Soja e Soja 1

Crédito: Ary Barbosa de Jesus / PML / Divulgação

Legenda: Produção de soja se concentra na Coxilha Rica e no Salto Caveiras 


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