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Mulheres serranas conquistam espaço na política

Nas últimas décadas, as mulheres sempre estiveram presentes no meio político da Serra Catarinense. Arlita Pagani administrou Urupema, Marta Regina Goss esteve à frente da Prefeitura de Bocaina do Sul e Carmen Zanotto se consolidou como nossa representante em Brasília. Mas as últimas eleições ampliaram os números. Três mulheres se elegeram prefeitas e 33 estão nas câmaras de vereadores, consolidando essa legislatura como a mais significativa em representatividade e a participação da mulher em um meio historicamente masculino.

Três das oito mulheres que assumiram o desafio de disputar as eleições majoritárias entre as 18 prefeituras da Serra Catarinense, saíram vitoriosas nas urnas. Além da prefeita de Palmeira Fernanda Córdova, os municípios de Campo Belo do Sul e Urubici são comandados por mulheres.

Claudiane Varela Pucci, foi uma substituição de nome em Campo Belo do Sul, depois que a Justiça Eleitoral barrou a candidatura de Firmino Branco. Mesmo com a desvantagem de uma candidatura tardia, ela mostrou a força da mulher nas urnas e numa chapa 100% feminina, junto com Ilzete Pinheiro Tessaro, somaram 1.835 votos contra 1.314 do segundo colocado.

Em Urubici as urnas consagraram Mariza Costa, com 3.297 votos, contra o ex-prefeito Antônio Zilli, que somou 2.755 votos. Mariza Costa perseguia a prefeitura de Urubici desde a eleição de 2016, quando foi derrotada pelo mesmo Antônio Zilli.

A força feminina nas urnas deste ano, não ficou apenas nas cabeças de chapa. Mas como vice-prefeita, foram eleitas mulheres em Bocaina do Sul, São Joaquim e Urupema, além de Campo Belo do Sul.


São 33 mulheres nas Câmaras de Vereadores

Em relação a participação da mulher, os destaques das eleições de 2020 foram Bom Jardim da Serra e Cerro Negro, que elegeram quatro mulheres, respectivamente. Lages elegeu duas, Suzana Duarte e Elaine Moraes. Mas Katsumi Yamaguchi ficou como primeiro suplente e já assumiu o cargo no legislativo.

Ao todo, os eleitores aprovaram 32 candidaturas de mulheres nas eleições proporcionais de 2020. Rio Rufino também tem três representantes entre as nove vagas daquela casa legislativa. Em outras sete câmaras, duas vagas são ocupadas por mulheres e em cinco haverá apenas uma mulher num ambiente predominantemente masculino.

Chama a atenção os municípios de Campo Belo do Sul e Ponte Alta, que não elegeram nenhuma mulher para a câmara. E observa-se, que Campo Belo do Sul tem duas mulheres, prefeita e vice no comando da prefeitura. É o único município da região que se tem notícia, em que duas mulheres estarão à frente das decisões do município, na Serra Catarinense.

Das 863 candidaturas para as vagas das Câmaras de Vereadores da região, 308 mulheres investiram na busca do mandato e 32 se elegeram. A representação delas foi significativa, já que somaram 35,68% do total das postulações.


Carmen Zanotto é a representante da Serra em Brasília

Carmen sempre esteve ligada à área da Saúde. Em 1986 assumiu a diretoria de enfermagem do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, em Lages, em 1992 tornou-se diretora administrativa do Hospital Geral e Maternidade Tereza Ramos e em 1991 assumiu o cargo de secretária municipal de Saúde de Lages. Em 2000 se elegeu vereadora e em 2003 foi convidada a assumir o cargo de secretária-adjunta de estado de Saúde de Santa Catarina, assumindo a função posteriormente.

Na eleição de 2010, Carmen candidatou-se a deputada federal e conquistou a segunda suplência de sua coligação. Entretanto, ela assumiu o cargo na câmara na maior parte da legislatura, com breves interrupções.

Na eleição de 2014, Carmen foi eleita deputada federal titularmente e se reelegeu em 2018. A pedido do então ministro da Saúde, coordenou o combate ao coronavírus nos três estados do Sul do Brasil. Tanto que em maio de 2020 o governador Carlos Moisés a convidou para assumir a Secretaria da Saúde, mas ela recusou.



Representatividade ainda é baixa

Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma progressão no debate público em torno das questões femininas. Temas como assédio, aborto, maternidade e carreira, vem sendo discutidos amplamente na sociedade e ganhando espaço no cenário político. A luta pelo direito das mulheres vem progredindo não só no Brasil, mas em todo o mundo. Alguns avanços já foram conquistados nas últimas décadas, como o direito ao voto e o direito de serem eleitas.

Porém, no que tange a representatividade das mulheres na política, esse debate ainda se encontra muito distante do desejado. Muitas mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de poder, serem eleitas ou terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Isso acontece devido à exclusão histórica das mulheres na política e que reverbera, até hoje, no

nosso cenário de baixa representatividade feminina no governo


Com a palavra, as vereadoras de Lages

Lages possui três vereadoras. Até onde se sabe a maior representativa em uma legislatura. Elas responderam ao Folha da Serra sobre o que as motiva na vida política. Conheça a opinião de cada uma.


Elaine Moraes

Como e quando a senhora despertou seu interesse pela política?

Penso que não houve um momento específico, na verdade, a vontade de auxiliar as pessoas e contribuir para uma cidade melhor sempre esteve dentro de mim. Como dizem, está no sangue!


Foi influenciada por alguém da área?

Não necessariamente. Minha vontade de participar do processo, exigia que fosse dentro de um grupo onde houvesse uma mulher em destaque. Assim, foi natural me aproximar do Cidadania, agremiação que contava com a deputada federal Carmen Zanotto, pessoa ímpar e uma figura muito forte no cenário político, com reputação irrepreensível e de destacada competência.


Como foi a aceitação da comunidade e dos políticos locais?

Acredito que, no que se refere à comunidade, foi ótima, já que consegui, junto com todas as pessoas que me apoiaram, um número expressivo de votos, suficiente para conquistar uma cadeira na Câmara de Vereadores, já na primeira tentativa. Com relação aos políticos locais, ainda estamos nos ambientando com o meio, o que ainda não nos permite uma avaliação mais segura. Via de regra, fui muito bem recebida.


A senhora recebeu alguma diferença de tratamento pelo fato de ser mulher?

Sim. A figura da mulher ainda não é muito aceita no meio político de Lages. Há aqueles que são amáveis, gentis. Entretanto, alguns, por razões que desconhecemos, tratam a mulher política com desdém. Basta ver o que ocorreu na Câmara de Vereadores, na sessão do último dia 22, onde minha companheira de partido foi atacada de forma rasteira.


Como analisa o crescimento da representatividade feminina na política serrana, região rotulada como machista?

O crescimento é visível. Temos, hoje, um número razoável de mulheres atuando no segmento político da Serra Catarinense. Mais que isso, é inevitável. Acredito que a atuação das mulheres na política regional possui o condão de estimular muitas outras a buscar espaço na política, a fim de que possam ter vez e voz.


Atualmente a Serra tem três prefeitas, quatro vices e trinta e três mulheres nas Câmaras de Vereadores. Essa representatividade deve estimular outras a entrarem na política?

Com certeza, como eu disse antes, a boa atuação das mulheres que já estão envolvidas com o processo político, motiva as demais a também buscarem seus espaços. Entretanto, não basta apenas termos números expressivos de mulheres, como é o caso. A Serra Catarinense necessita ouvir mais as mulheres que, com sua sensibilidade e tato, com certeza levarão nossa região a patamares melhores.



Katsumi Yamaguchi

Como e quando a senhora despertou seu interesse pela política?

Tudo começou na Universidade, estava inconformada com a representação estudantil ser predominantemente composta por homens e resolvi montar uma chapa para concorrer a eleição, me tornando então presidente do Centro Acadêmico de Direito. A partir disso, foi muito natural as temáticas oriundas de questões políticas fazerem parte das discussões e serem inseridas na minha vida pessoal.


Foi influenciada por alguém da área?

Não. Na minha família e nem no meio que vivia tive contato ou algum tipo de referência política. Fui a primeira da família a estar inserida neste meio e acredito que isso se deu pela revolta e insatisfação de não ser ouvida e vivenciar que outras pessoas também não o são. Certamente, por ter o apoio e suporte das mulheres fortes que compõem meu quadro familiar e também pelos meus amigos, fui fortalecida e encorajada a estar no meio político.


Como foi a aceitação da comunidade e dos políticos locais?

A nossa região é formada por uma cultura bastante conservadora e relembro que no início, acredito que por ser muito jovem e também mulher, não acreditaram no meu potencial e nos propósitos que me inseriram no meio. Isso faz parte do processo, desde então, todos os dias da minha vida, seja nos espaços que já atuei profissionalmente ou em questões de cunho pessoal, passei a lutar para conquistar credibilidade ao mostrar as minhas idealizações.


A senhora percebeu alguma diferença de tratamento pelo fato de ser mulher?

Sim, por muitas vezes. Até hoje, infelizmente em alguns momentos vivenciados, precisei repetir por mais de dez vezes durante uma discussão um posicionamento para ser ouvida e respeitada. Pelo fato das mulheres ainda serem minoria nesse meio, acredito que ainda sejamos subestimadas por algumas pessoas e isso fortalece a minha missão que é a de fazer as mulheres, através de mim, serem ouvidas e respeitadas.


Como analisa o crescimento da representatividade feminina na política serrana, região rotulada como machista?

Estamos conquistando, a passos curtos, porém firmes, com qualidade, força de vontade e conhecimento, diversos espaços de representatividade. Vejo isso como uma grande vitória por uma luta incessante de mulheres que estiveram antes de mim nesse processo e entendo que o nosso fortalecimento se dará através da nossa união e consequente reconhecimento da nossa capacidade e habilidade política.


Atualmente, a Serra Catarinense tem três prefeitas, quatro vices e 32 mulheres nas câmaras de vereadores. Essa representatividade deve estimular outras a entrarem na política?

Com certeza. É uma grande alegria ter tamanha representatividade na nossa região e estar fazendo parte dela neste momento. Como já disse, é um processo lento, mas contínuo, reforçando a minha convicção de que esses números e a nossa atuação irão influenciar e incentivar para que, nas próximas jornadas eleitorais, tenhamos mais mulheres inseridas e assim comprovar efetivamente que não queremos condições especiais ou vantagens, mas sim a igualdade de tratamento e equidade nas oportunidades.




Suzana Duarte

Como e quando a senhora despertou seu interesse pela política?

Cresci no ambiente político e isso acaba despertando o interesse. Meu avô, em São Joaquim, participava ativamente. Quando chegamos em Lages, minha mãe também trabalhou em campanhas políticas e mais tarde conheci e casei com Toni Duarte que foi eleito vereador e vice-prefeito em nossa cidade.


Foi influenciada por alguém da área?

Pelo próprio Toni e pela deputada Carmen Zanotto, que me incentivaram a participar e mostrar que as mulheres podem e devem fazer parte da política.


Como foi a aceitação da comunidade e dos políticos locais?

Foi muito boa, pois fui candidata em 2016 e conquistei 1.433 votos, sendo a 11ª em número de votos, porém devido a legenda partidária não conquistei a vaga, mas na última eleição fiz 1.585 votos, sendo eleita a 4ª vereadora mais votada.


A senhora percebeu alguma diferença de tratamento pelo fato de ser mulher?

Ainda há resistência da sociedade em ter mulheres na política. Porém quando eu iniciava minha exposição de propostas com argumentos contundentes, com posicionamento firme e me colocando à disposição da comunidade, as pessoas me olhavam com "outros olhos".


Como analisa o crescimento da representatividade feminina na política serrana, região rotulada como machista?

Esse crescimento, mesmo que tímido, vem sendo aprimorado pelas próprias mulheres. Afinal a democracia é para todos e todas, e as mulheres estão mais confiantes, determinadas, obtendo qualificação e mostrando, com competência, suas atitudes. A sororidade a qual buscamos, está fazendo com que as mulheres se interessem em participar do parlamento.


Atualmente, a Serra Catarinense tem três prefeitas, quatro vices e 33 mulheres nas câmaras de vereadores. Essa representatividade deve estimular outras a entrarem na política?

Acredito que a qualidade do trabalho que será realizado por todas estas Mulheres, fará com que muitas outras sintam-se encorajadas e motivadas a também fazer parte de uma futura história de realizações políticas, com objetivo de melhorar a vida de cada ser humano da sociedade onde vivem.



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