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Colher pinhão é um ato de coragem

  • Nilton Wolff

Estamos em abril. É outono e o vento mais gelado já ronda a Serra Catarinense. Mas, a cada ano, a colheita do pinhão é que realmente marca o início do período mais frio, período em que um bom café ao lado do fogão a lenha ganha mais valor, principalmente se em cima da chapa quente estiver um punhado de semente da araucária. É nesta época, também, que se valoriza a coragem de quem se atreve a subir nas árvores mais altas para alcançar as pinhas maduras, trabalho cada vez mais raro.

Cada produtor usa uma técnica para colher as pinhas. Tem quem prefira utilizar uma corda. Do chão, o catador laça um galho, enrola a corda várias vezes em volta do tronco e usa essa corda como apoio para subir na árvore. Outros usam uma escada para atingir os primeiros galhos e depois escalam de galho em galho para alcançar as pinhas.

Diego Varela dos Santos, conhecido como Biro, é adepto da espora. O gancho de metal é fixado na altura dos calcanhares e é fincado na casca do pinheiro araucária para dar sustentação ao catador, durante a escalada. É uma atividade perigosa que faz parte da cultura do serrano e é passada de geração em geração.

Biro também aprendeu com familiares. Hoje aos 33 anos, ele recorda que escala as árvores desde que tinha 14 anos. "É uma atividade que exige muito cuidado e experiência". Não se pode nem pensar em cair. As araucárias são muito altas e uma queda geralmente é fatal.

Esse risco faz com que diminua, a cada ano, o número de catadores de pinhão. "Está difícil encontrar quem suba. As pessoas até me procuram, mas eu só colho pinhão na minha propriedade," comenta Biro, que trabalha no município de Painel. Preocupado em preservar a cultura, que faz parte de sua família há décadas, ele pretende ensinar a função ao filho. "Proporciona uma boa renda extra, além do prazer de saborear um bom pinhão," conclui Diego Varela dos Santos.


Safra deve ser maior

Depois de dois anos com safras reduzidas, a produção atual de pinhão deve ser maior, ao menos essa é a expectativa dos produtores da Serra Catarinense. A colheita e comercialização é autorizada somente a partir de hoje, 1º de abril, mas a previsão de volume é feita de acordo com a quantidade de pinhas grudadas nos galhos dos pinheiros araucárias.

Painel é considerado o maior produtor catarinense da semente. Em 2019, segundo dados do IBGE, o município colheu 720 toneladas de pinhão, resultando em um movimento financeiro de R$ 2,5 milhões. Mas, acredita-se que a quantidade produzida é bem maior, já que nem toda a produção é vendida com nota fiscal.

Fato, é que a produção representa a principal renda do ano, principalmente para os pequenos produtores. "Nossa economia tem como base a produção pecuária e o pinhão. O pequeno produtor não tem como investir na criação de gado, que exige áreas extensas de terra. Assim, tem na colheita do pinhão uma importante fonte de renda," avalia o secretário de Agricultura de Painel, Rodrigo Camargo Vieira.

Rodrigo comenta que esteve conversando com vários produtores rurais e todos acreditam que essa safra será melhor em relação às anteriores. Nas duas últimas, as quebras ficaram entre 30% e 40%. Como consequência, principalmente no início da colheita, o pinhão foi comercializado a mais de R$ 13,00 o quilo em Lages.

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