Inspiração colorada na sala de aula
Quem estava lá, vibrou - e quem não estava, teve o desafio de não sorrir de satisfação com a cena e a alegria alheia: Memphis Depay abandonou a redoma que cerca os craques de sua estirpe para, como o mortal que é, circular entre seus iguais em uma quebrada aleatória de Santo André, na Grande São Paulo.
O holandês Depay é o nome do momento no futebol brasileiro. Depois de sua chegada ao Corinthians, há poucos meses, a equipe paulista, que parecia já condenada a cair para Série B, recuperou-se no Campeonato Brasileiro a tal ponto que acabou entrando na briga por vaga na edição de 2025 da Taça Libertadores, a mais importante competição do futebol sul-americano.
Depay é também o jogador mais bem-pago no Brasil na atualidade. Consta que recebe R$ 3 milhões por mês, em um acordo que prevê remuneração adicional caso ele e o clube atinjam algumas metas específicas.
Com essa bufunfa no contra-cheque e uma trajetória que inclui passagens por grandes equipes europeias, como Barcelona, Manchester United, Lyon e Atlético de Madri, e também pela seleção da Holanda, o atleta parecia ter todos os pré-requisitos para ser o que se costuma chamar genericamente de “mascarado”. Pois náo foi o que testemunharam os moradores do Jardim Santa Cristina, em Santo André, há coisa de duas semanas.
No dia 12 deste mês, o holandês aproveitou uma folga para circular pelo bairro e falar com aqueles que vibram com seus feitos em campo. Em vídeos amadores que circularam nas redes sociais, o jogador apareceu entregue às mãos hábeis de uma jovem que trançava seu cabelo, aproveitando um pagode e cantando ao lado de torcedores corintianos. Ali estava um sujeito vivendo um elemento central do que nos faz humanos: a convivência.
Esse tipo de interação já foi a regra no futebol, hoje um ambiente muitas vezes pasteurizado, distante, insosso. É assim no caso dos grandes clubes, dos craques de prestígio global: os torcedores só veem essas estrelas nas telas de suas TVs e de seus celulares, e quando cruzam com algum deles em um encontro casual, não raro têm que aturar uma cara de paisagem como resposta a um simples pedido de autógrafo.
O oposto dessa casca blasé foi o que se viu no passeio de Memphis Depay e na visita que João Hirata fez dias atrás à unidade lageana da Escola Sesi. Hirata, com passagem pelas categorias de base e também pela equipe principal do Inter de Lages, estudou na escola, e lá esteve contar aos alunos do primeiro ano sua experiência no futebol. A iniciativa fez parte do projeto “Pequenos atletas, grandes histórias: o esporte na nossa cidade”.
Um viva a João Hirata, que, com um gesto tão simples, fez tanto: mostrou orgulho do time da nossa cidade e também de quem ele próprio é. Um filho da terra, com a camisa da terra, pode ser tão inspirador quanto um holandês de fama internacional.
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