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História

Tropeiro do século 18 espalhou mutação genética que causa câncer

A Síndrome de Li-Fraumeni (SLF) é uma doença hereditária de predisposição ao câncer, relacionada a mutações no gene TP53. Uma das mutações neste gene, denominada R337H, é encontrada apenas no Brasil, com prevalência mais alta no sul e no sudeste do país. A descoberta foi feita pela geneticista Maria Isabel Achatz, que pesquisou a origem de  famílias inteiras que desenvolveram a doença, algumas pessoas com mais de um tipo de câncer. Esse assunto foi divulgado, em vídeo no Facebook, pela médica mastologista lageana, Luiza da Rosa Ramos, que explica essa situação logo abaixo.   

Maria Isabel Achatz ainda estava na faculdade de Medicina, em São Paulo, no final dos anos 1990, quando encontrou a paciente que mudaria sua carreira e sua vida para sempre. Era uma mulher que havia tido câncer seis vezes - em todas elas, tumores primários, ou seja, independentes um do outro.

"Naquela época ainda não podíamos consultar a internet, então, fui na biblioteca da universidade, comprei um artigo científico e tive que esperar um mês para que ele chegasse", relembra.

Incentivada por outros médicos, iniciou sua pesquisa e conseguiu comprovar que famílias inteiras acometidas pela doença tiveram origem comum na época dos tropeiros, pessoas que percorriam a região Sul e Sudeste transportando mercadorias e animais. Como ficavam muito tempo fora de casa, relacionamentos extraconjugais explicam a disseminação do gene defeituoso.  

Entrevista

Luiza da Rosa Ramos - Lageana e médica mastologista

Folha da Serra - Desde quando a senhora pesquisa a Síndrome de Li Fraumeni?

Sou médica Mastologista e na minha especialidade atendemos pacientes com esta síndrome devido ao alto risco de desenvolver câncer de mama. Por este motivo, procuro estar sempre atualizada sobre o assunto.

O fato de ser lageana facilitou o entendimento do tema?

Facilitou sim. Lembro quando assisti à uma aula sobre o assunto em um congresso e, pela primeira vez, vi que a doença que eu conhecia tinha relação com o Caminho das Tropas, que eu já conhecia, então tudo fez sentido!


A senhora usa como base a pesquisa da geneticista Maria Isabel Achatz?

Sim, acompanho as pesquisas dela em relação ao assunto para me manter atualizada.


Pode explicar a origem da síndrome e como ela passa de geração em geração?

A síndrome de Li-Fraumeni é uma síndrome hereditária causada pela alteração no gene TP53 - gene responsável por realizar a supressão de tumores, ou seja, este gene controla a divisão celular, e se a célula se dividir de forma errada, ele faz a divisão parar e enviar a célula para reparo, desta maneira o tumor não consegue se formar. Quando este gene está defeituoso (mudado) ele perde essa capacidade de controle o que facilita o aparecimento de tumores.


Certamente, esse tema vai despertar o interesse de grande número de pessoas. Existem exames que devem ser feitos por quem reside na região?

O exame que faz o diagnóstico da síndrome é solicitado quando existem muitas pessoas na família com diagnóstico de câncer, ou quando existem mais de um tipo de câncer na mesma pessoa. Nesta situação se aconselha uma consulta com médico geneticista para investigar se existe uma mutação presente no DNA da família, responsável pelos eventos. Este exame é feito pelo sangue ou pela saliva. Os portadores da síndrome de Li-Fraumeni têm cerca de 50% de risco de desenvolver câncer antes dos 30 anos, e cerca de 90% deles têm câncer antes dos 70 anos. Lembrando que no Brasil o câncer tende a aparecer mais tarde, devido a uma característica genética da mutação nos descendentes brasileiros.

No seu vídeo, a senhora fala da alta incidência registrada em habitantes do Sul do Brasil. Mas esse alto percentual também se aplica às possibilidades de cura?

Pessoas portadoras da síndrome de Li-Fraumeni já nascem com uma cópia deste gene mudado (pode ser tanto a cópia materna quanto a paterna) em todas as células do corpo e têm então um risco maior de desenvolver a doença em qualquer fase da vida.Porém, vale lembrar que temos 1 par de cada gene, então essas pessoas ainda possuírem uma cópia normal deste gene, precisando que um outro evento que altere esta cópia normal para que o câncer ocorra. Por isso, não existe a certeza de que um portador de síndrome de Li-Fraumeni vá ter câncer durante a vida. O fenômeno de perda da cópia normal é imprevisível e, em certos portadores, pode nunca ocorrer.A síndrome de Li-Fraumeni é rara e autossômica dominante, ou seja, o pai ou a mãe podem transmiti-la para os filhos e cada descendente tem 50% de risco de ser portador da mesma síndrome.A partir do momento que se diagnostica o tumor, ele é tratado geralmente da mesma forma do que em pessoas que não têm a síndrome, então o prognóstico varia conforme o próprio tipo de tumor e também em que estágio foi diagnosticado. De forma geral tumores iniciais tem melhor prognóstico. Pessoas que sabidamente têm a síndrome têm a oportunidade de realizar exames de rastreamento mais específicos com o objetivo de antecipar possíveis diagnósticos de câncer.


O aprofundamento das pesquisas pode auxiliar na prevenção e tratamento?

Sim, pesquisas sempre auxiliam e trazem novas informações que nos ajudam a entender melhor as doenças.


Quando a pessoa é diagnosticada com câncer, como saber se a mutação é no TP53?

Para diagnóstico da síndrome existem alguns critérios clínicos. Resumidamente se suspeita quando é diagnosticado um sarcoma (tumor de partes moles) antes do 45 anos, quando existe um familiar de primeiro grau também com câncer antes dos 45 anos e quando existe ainda um parente se primeiro ou segundo grau com qualquer câncer antes dos 45 anos ou um sarcoma em qualquer idade.Os tipos de câncer mais associados à síndrome são:Sarcomas ósseos e de tecidos moles; Câncer de mama genético; Câncer de tórax;  Tumores cerebrais; Câncer adrenocortical; Leucemia genética;  Linfoma; Glioblastoma; e  Rabdomiossarcoma.


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