Plano de prevenção à violência nas escolas tem aval da Comissão de Finanças |
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Mais tarde, o prédio do Colégio São José foi transformado no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres
Acervo de Walter Hoeschl
A partir das 18 horas, o fluxo de ônibus é intenso nas avenidas que servem de acesso às universidades. São veículos transportando acadêmicos dos mais variados municípios da Serra Catarinense, de Vacaria (RS), Curitibanos e Campos Novos. Sinal inconteste de que Lages se tornou polo macrorregional também em Educação Superior. É necessário dizer “também”, porque quando o assunto é educação, além das universidades, das redes municipal e estadual, o município possui escolas particulares e instituições que oferecem os mais variados cursos técnicos e profissionalizantes. Trata-se de uma estrutura edificada em mais de dois séculos de história à base de muito esforço e dedicação.
Para se ter uma ideia, a fundação de Lages por Antônio Correia Pinto ocorreu em 22 de novembro de 1766, mas, segundo registros do Livro Continente das Lagens, de Licurgo Costa, somente em 1822 um professor foi nomeado para a vila. A demora é compreensível, pois a coroa portuguesa não queria educar o povo, temia que com mais conhecimento, o brasileiro requeresse a independência.
O livro conta que Correia Pinto teve instrução acima da média para a época. Sabia muito bem ler e escrever. Ele trouxe para Lages seu cunhado, Balthazar Joaquim de Oliveira, que também era alfabetizado. De sua confiança, ele auxiliava Correia Pinto com as correspondências sigilosas entre a vila e o império. Consta que praticamente todas as pessoas que fundaram a vila sabiam ler e escrever.
Uma escola para meio estado
Na época da fundação, Lages era um dos maiores municípios do Brasil. Seu território começava em São Joaquim e seguia até a divisa com o Rio Grande do Sul, no Rio Pelotas. Ao Norte, se estendia até Curitibanos e ao Oeste, até as divisas com Campos Novos. Com toda essa imensidão, além da vila principal, várias povoas foram se formando. Mesmo assim, em 10 de setembro de 1830, a majestade imperial Visconde de Alcantara criou por decreto a primeira escola de Lages. Era apenas uma e não há relatos se ela de fato foi instalada.
Passados 66 anos da fundação, em 1832 a vila recebeu seu primeiro professor. Manoel Gomes de Souza participou de concurso e foi aprovado em ler, escrever e contar a doutrina cristã. A demora não se justificava. Mesmo antes da independência do Brasil, as autoridades locais reivindicavam professores para alfabetizar a população.
Faltam registros históricos que apontem o período exato em que Manoel Gomes lecionou. Pois em 30 de janeiro de 1839, João Carlos Pardal, governador da província, comunicou à Câmara de Vereadores que a cadeira de primeiras letras estava vaga e era necessário fazer concurso para preenchê-la.
As primeiras escolas
Em 1850, 26 alunos estavam matriculados em Lages. Tudo leva a crer que todos eram homens, porque somente em 1859 houve pedido da Câmara de Vereadores para abrir uma turma para meninas.
O livro de Licurgo Costa aponta que em 1860 Lages contava com três escolas masculinas e uma feminina. Passados 27 anos, o presidente da Câmara de Vereadores, Belisário José de Oliveira Ramos, enviou relatório ao governo informando que o município possuía cinco escolas para homens, três para mulheres e uma mista. Todas eram públicas e dedicadas à educação primária. Havia também uma particular. A população da época era estimada em 15 mil pessoas.
Quem podia, pagava
O tempo passava e como a estrutura educacional pouco avançava, fazendeiros e empresários passaram a pagar professores particulares para seus filhos. Registros apontam que a partir de 1860 surgiu a profissão de professor particular ambulante. O professor ia até o aluno e ministrava aula particular. Ele ficava alguns meses ou até um ano em determinada propriedade. Basicamente, ensinava a ler, escrever e as quatro operações aritméticas.
Um dos primeiros na função foi João José Theodoro da Costa Neto, que depois tornou-se líder político. Com seu nome foi batizado o Parque Natural de Lages.
No livro Reminiscências, ele relata que “as aulas na casa de seus pais funcionaram até 1867. Em 1868, fechei-a porque um fazendeiro amigo de meu pai propôs levar-me para a sua fazenda para ensinar seus filhos, dando uma remuneração muito superior.”
Oito dias de viagem até São Leopoldo
Fundado por padres jesuítas em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, o Colégio Nossa Senhora da Conceição recebeu muitos alunos lageanos entre 1880 e 1910. Eram filhos de famílias ricas, que segundo o Livro Continente das Lagens, de Licurgo Costa, eram atraídos pela qualidade oferecida. Alguns desses lageanos, diz o livro: “tiveram projeção na política, artes e letras.”
Apesar de ter dinheiro, as viagens eram penosas. Oito dias para percorrer os pouco mais de trezentos quilômetros que separavam Lages de São Leopoldo. Quando chovia muito e os rios enchiam, a viagem ficava ainda mais longa. As barracas serviam de hotel e o transporte era no lombo de mulas.
Modelo resistiu ao tempo
Quem mora no interior sabe bem como funciona a escola multisseriada. O modelo foi criado em 1827 pelo governo imperial, pela Lei Geral do Ensino de 1827, artigo primeiro, afirmava que “em todas as cidades, villas e lugares mais populosos, haverá escolas de primeiras letras que forem necessárias.” Mas, efetivamente, esse modelo foi implantado somente no início do século XX em Lages.
Simples, ele consiste em colocar vários alunos em um mesmo espaço. Divididos por séries, os alunos recebem atenção individual do professor. Portanto, um não pode atrapalhar a aula do outro. Apesar da modernidade, com algumas alterações esse modelo ainda é utilizado no interior da Serra Catarinense. Foi graças a ele que a educação deixou de ser aplicada somente na vila para atender também quem mora no interior. Efetivamente, foi o sistema que democratizou a educação no País e, por consequência, em Lages, onde funciona a Escola Itinerante.
De estrutura precária a polo educacional
A precariedade da Educação de Lages começou a mudar após a chegada dos religiosos padres Franciscanos e Irmãs da Divina Providência. Em 18 de agosto de 1901 chegaram em Lages as irmãs de caridade, Georgia, Benvenuta e Geralda, da Congregação da Divina Providência. Elas estavam acompanhadas pelo padre Schmees. A missão delas era educar as meninas e tratar os doentes.
Três dias após, 34 meninas estavam matriculadas em sistema de internato. Nasceu assim o Colégio Santa Rosa de Lima, que até hoje é um expoente da educação. Para atender os meninos, padres Franciscanos criaram o Colégio Diocesano. O Colégio São José, utilizado por eles, em 1914 foi repassado ao Hospital Nossa Senhora dos Prazeres. É aquela parte construída em pedras entre as ruas Lauro Müller e Hercílio Luz.
As duas estruturas atendiam aos apelos da população por melhor qualidade do ensino, mas não eram públicas. Assim, em 20 de maio de 1913 foi inaugurado o Grupo Escolar Vidal Ramos, que depois de 99 anos como escola pública, uma das mais antigas de Santa Catarina, foi revitalizado e transformado em Centro Cultural. Sua construção foi fruto da reforma pedagógica implantada no Brasil a partir da República.
Atualmente, o município possui 23 escolas da rede estadual. A rede municipal é mais abrangente. São mais de 100 unidades entre escolas de educação básica, centros de educação infantil (creches) e escolas itinerantes, que atendem as comunidades do interior.
Elevando padrões
Com o passar dos anos, Lages consolidou-se como polo econômico da Serra Catarinense e uma das principais cidades de Santa Catarina. Essa condição também influenciou na educação. Durante o governo de Nereu Ramos, que era lageano, foi criada em Lages a Escola Complementar Agrícola Caetano Costa. Ela utilizava a área ocupada hoje pelo CAV/Udesc.
Atualmente, a Caetano Costa está às margens da BR-282, em São José do Cerrito. Sua transferência ocorreu quando aquele município ainda pertencia a Lages. Continua trabalhando na formação de técnicos agrícolas e recebe alunos de vários municípios catarinenses.
Já o Centro de Ciências Agroveterinárias, CAV/Udesc, foi implantado a partir de 1963 com o governador Celso Ramos. Atualmente o centro é referência nacional e mundial em qualidade de ensino e em pesquisas, principalmente as que envolvem clonagem.
Outro ícone da educação, a Uniplac teve a aula inaugural em 6 de abril de 1964, com as faculdades de Ciências Econômicas e Ciências Contábeis.
Atualmente, o município possui várias universidades, escolas particulares, unidades do Sesi, Senai e Instituto Federal (IFSC). A variedade de cursos profissionalizantes e superior é tão grande que atrai estudantes de vários estados brasileiros. Todo esse movimento também contribui no fortalecimento da economia.
Ivana Michaltchuk
Secretária municipal de Educação
Folha da Serra_ Ao longo da história, Lages superou todos os desafios tornando-se referência em Educação. Quais são os fatores que contribuíram para isso? A facilidade de logística, ou o empenho dos profissionais que aqui atuam?
Ivana - O município de Lages, ao longo dos seus 256 anos de história, tornou-se uma referência na Serra Catarinense em relação a diversos aspectos sociais, econômicos e também nas questões educacionais. Certamente, por sua posição estratégica no estado de Santa Catarina é escolhido por muitas pessoas que buscam por qualificação técnica. O nosso Sistema Municipal de Educação de Lages é referência para os municípios vizinhos no desenvolvimento de ações e atividades que estão alinhadas com as políticas nacionais para o desenvolvimento de uma educação de qualidade. Temos como um dos fatores de relevância na educação municipal, a educação permanente oportunizada mensalmente para os profissionais que compõem os quadros das nossas unidades de ensino e que refletem no bom trabalho que é desenvolvido com as mais de 15 mil crianças e estudantes matriculados.
É gratificante saber que Lages possui oportunidades de cursos de nível técnico e superior, que podem complementar o conhecimento dos alunos que estão na rede municipal?
Nosso compromisso enquanto Sistema Municipal de Educação é oferecer sempre uma educação de qualidade para as crianças da Educação Infantil, para os estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio Itinerante. Quando os jovens concluem as etapas da Educação Básica, incentivamos os nossos jovens a buscar pelas diversas oportunidades que são ofertadas em nosso município em relação ao nível técnico e superior.
Como a senhora vê a contribuição desse sistema (educação) na formação de profissionais e cidadãos?
O Sistema Público Municipal de Educação tem entre seus compromissos o desenvolvimento integral das mais de 15 mil crianças e jovens matriculados em nossas unidades de ensino. Percebemos que no cotidiano das nossas atividades, sempre primamos por uma educação pensada enquanto direito para todos, pautada na diversidade, na multiculturalidade e na equidade que garantem os direitos de aprendizagem e um percurso formativo voltado para a formação social, crítica e cidadã.
O setor educacional continuará crescendo junto com o município ou chegou ao seu limite?
A Educação Municipal de Lages continuará crescendo em conjunto com o município, pois é por ela que muitos lageanos acessam aos processos educativos e vão se integrando na sociedade. Destacamos nesses últimos anos a implementação das Diretrizes Curriculares do Sistema Municipal, a DCSMEL, que atualmente fundamenta e orienta todos os nossos processos pedagógicos. Dessa forma, estamos frequentemente promovendo significativos investimentos por meio do poder público municipal em nossas unidades de ensino e também na formação de nossos profissionais que acontecem mensalmente, percebendo assim, o quanto a educação de qualidade melhora a vida dos cidadãos.
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