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Água, se não cuidar, vai colapsar

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Situações de falta, excesso, risco de suprimento e baixa qualidade exigem mobilização em favor da água em Santa Catarina.

Poucos se dão conta de que o grande negócio do Brasil é a água. A produção de um único frango, principal item de exportação de Santa Catarina e produto em que o País é líder comercial mundial, utiliza 3 mil litros de água, desde o plantio dos grãos com que o animal se alimenta até o seu processamento final, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

A soja, principal item da pauta nacional de exportações, consome 2 mil metros cúbicos de água para 1 tonelada do grão – ou, dito de outra forma, 2 mil litros de água para 1 quilo de soja.

Produtos da agroindústria como esses são tratados em círculos do comércio internacional como “water trade”, ou comércio de água, modalidade em que países com maior disponibilidade hídrica são mais competitivos do que aqueles que apresentam escassez.

Eis aí uma grande vantagem comparativa do Brasil, que dispõe de 12% de toda a água doce do mundo. “Podemos até achar que estamos exportando soja, mas, na realidade, estamos exportando água”, afirma o economista Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco Brics.

Calcula-se que 70% da água captada no Brasil seja destinada à produção de alimentos. Por ser uma potência neste setor, pode-se dizer que a economia nacional é movida a água.

Para cada real gerado na economia do País são consumidos 6,2 litros de água, de acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA). A indústria também utiliza água em seus processos, e no geral é o setor da economia que mais retira o insumo dos sistemas hídricos para sustentar suas atividades no Estado, conforme o Plano Estadual de Recursos Hídricos de Santa Catarina.

Para além de questões econômicas vale o chavão: água é vida. Esta ideia leva em conta muito mais variáveis do que a necessidade humana básica de beber um ou dois litros por dia.

Água em abundância – e limpa – é fator de conforto e qualidade de vida, quando não extrapola os limites naturais e da infraestrutura, obviamente.

A oferta de água de qualidade e o tratamento dos efluentes – o saneamento básico – estão entre os melhores investimentos conhecidos: para cada real aplicado no setor se deixa de gastar R$ 4 em saúde, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Todas essas e outras considerações acerca do que pode ser classificado como o bem mais precioso do planeta, para citar outro chavão inescapável, levaram a Fiesc a investir em um estudo sobre a disponibilidade, o uso, o tratamento e a infraestrutura existente e necessária para a água em Santa Catarina.

A partir de levantamentos próprios e da compilação de dados de diversas fontes, a Federação traçou um cenário que mensura os impactos do excesso, da escassez, do suprimento e da qualidade da água no Estado para elaborar a Agenda Catarinense da Água.

“É uma proposta para ser discutida com a sociedade, não é um documento definitivo e estático. O objetivo é contribuir com diretrizes para a construção de uma política de Estado para a água em Santa Catarina”, afirma Mario Cezar de Aguiar, presidente da Fiesc.

O documento, que será atualizado anualmente, propõe ações prioritárias para fazer frente aos desafios agravados pelos impactos das mudanças climáticas.


Desastres naturais causam prejuízos de R$ 1Bi/ano

“Santa Catarina sofre prejuízos de mais de R$ 1 bilhão por ano, em média, em razão de desastres naturais”, diz Egídio Martorano, gerente executivo para Assuntos de Transporte, Logística, Meio Ambiente e Sustentabilidade da Fiesc, com base em dados compilados pelo Atlas Digital de Desastres no Brasil.

As perdas para a indústria foram de quase R$ 100 milhões por ano, em média, nas últimas três décadas, em decorrência de alagamentos, chuvas intensas, enxurradas, inundações, colapso de barragens e movimento de massas, além de estiagens severas. Os prejuízos para a agropecuária são ainda maiores, com origem principalmente na falta de chuvas.


Captar água é prioridade

As bacias hidrográficas estão à beira do estresse. Estima-se que até 2040 a captação crescerá em 30%, e antes disso todas as Regiões Hidrográficas catarinenses já deverão estar em situação crítica ou até mesmo insustentável. “Estamos captando muito mais água do que no passado.

Se não encararmos isso como prioridade, o suprimento hídrico vai colapsar”, diz Luana Siewert Pretto, CEO do Instituto Trata Brasil.

Santa Catarina ostenta alguns dos indicadores socioeconômicos mais invejáveis do Brasil, alguns deles com padrões de países desenvolvidos.

Porém, enquanto tem a melhor distribuição de renda do Brasil e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos mais altos, alguns indicadores de saneamento básico são ruins até na comparação com os demais estados brasileiros.

A rede de água chega a mais de 98% da população urbana, mas menos de um terço da população dispõe de serviços públicos de coleta e tratamento, o que representa metade da já baixa média nacional.


300 piscinas de esgoto

De acordo com o Trata Brasil, o equivalente a 300 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento é despejado diretamente na natureza, todos os dias, em Santa Catarina, impactando o meio ambiente e a saúde da população.

Os resultados são observados em indicadores como o índice de balneabilidade das praias. O levantamento de setembro de 2023 apontou que um terço do total dos pontos analisados não estava próprio. No início do ano cerca de metade dos pontos estava imprópria, e um grave surto de diarreia foi registrado em Florianópolis.

A Fiesc realiza acompanhamento sistemático de obras de infraestrutura que se relacionam com as diversas dimensões da água em Santa Catarina, por meio da ferramenta Monitora FIESC.

Das nove obras de saneamento monitoradas, apenas duas estão em andamento. As demais estão com o prazo expirado ou andamento comprometido.

No caso dos projetos para enfrentamento de enchentes, nove das 14 obras monitoradas estão com o andamento comprometido, enquanto as demais estão com o prazo expirado.

A federação também desenvolve ações e programas junto à indústria, para promoção da sustentabilidade e prevenção aos efeitos das mudanças climáticas. Um deles é o Plano Sustentabilidade para a Competitividade da Indústria Catarinense, lançado em 2013.

No contexto deste programa, a FIESC desenvolveu recentemente, em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), um guia para a indústria se adaptar às mudanças do clima, que utiliza uma metodologia da United Kingdom Climate Impacts Programme (UKCIP), da Universidade de Oxford, Inglaterra.

“Os padrões de clima e de água estão se alterando em todo o mundo, e Santa Catarina sofre os efeitos”, afirma Egídio Martorano.

“Devemos nos preparar para os períodos de excesso e de escassez, que serão cada vez mais agudos, além de universalizar o saneamento. A Agenda da Água é uma contribuição da Fiesc para a superação desses desafios.”

Fonte: Revista Indústria & Competitividade


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