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Meio ambiente

Cervo Chital ameaça programas sanitários de Santa Catarina, avalia IMA

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Espécie invasora foi introduzida a partir do Uruguai e da Argentina, pode pesar até 90 quilos e oferece risco ao ecossistema existente no Estado

Em coluna da Parceria Ambiental, publicada no Folha da Serra em 19 de abril deste ano, o engenheiro ambiental e sanitarista, Vinicius Nascimento, alertou para a ameaça do Cervo Chital, animal exótico avistado em várias regiões catarinenses, inclusive na Serra.

Apesar da quantidade de indivíduos ainda ser pequena, teme-se que a situação fuja do controle, a exemplo do que ocorre atualmente com o javali. Questionado, o Instituto de Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), confirma que a espécie representa vários riscos.  

Apesar dos riscos, suspeita-se que algumas pessoas tentaram criar esses animais em cativeiro. Para inibir esta e outras práticas, o IMA publicou portaria que proíbe a posse, o domínio, o transporte, o comércio, a aquisição, a soltura, a translocação, a propagação, a criação e a doação da espécie no estado. Quem avistar algum animal desta espécie deve avisar imediatamente o instituto. 

Santa Catarina é o maior produtor nacional de suínos e o segundo maior de frangos. Foi o primeiro estado brasileiro a conseguir o status de livre de febre aftosa sem vacinação. Para tanto, conquistou vários títulos de qualidade e sanidade, que podem ser ameaçados caso uma espécie invasora dissemine doenças em seu território.  

Entrevista

Elaine Zuchiwschi

Eng. Agrônoma, coordenadora do Programa Estadual de Espécies Exóticas e Invasoras do IMA


Folha da Serra - O Cervo Chital é originário de qual país, e de que forma foi introduzido no Brasil?

Elaine Zuchiwschi - Nativo na Índia, Nepal, Bangladesh, Butão e Sri Lanka. A espécie adentrou o extremo sul do Brasil pela expansão de populações invasoras em vida livre no Uruguai e Argentina, entrando pelo sul do estado do Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, há registros esparsos da espécie, o que sugere que indivíduos têm sido mantidos em cativeiros irregulares e posteriormente soltos. É importante destacar que é proibida a introdução do cervo axis no estado de Santa Catarina, sendo também proibida a criação e comércio da espécie conforme Portaria IMA Nº 157 de 2022.

 

Ele representa uma ameaça sanitária para Santa Catarina, que produz e exporta carne de suínos e frangos?

Indivíduos da espécie Axis axis podem ser portadores e transmitir tuberculose bovina, e são portadores de parasitas comuns que podem afetar diretamente humanos quando em contato com sistemas de abastecimento de água doce como leptospirose, criptosporidiose e cepas de Escherichia coli. Inúmeras doenças virais e bacterianas são comuns aos bovinos domésticos e aos cervídeos, incluindo língua azul (LA), diarréia viral bovina (BVD), febre catarral maligna, brucelose e endo e ectoparasitas. A invasão por axis pode comprometer programas de defesa sanitária como: Programa de Febre Aftosa, Programa Brucelose e Tuberculose, Programa contra Raiva herbívora, Programa da Encefalopatia Espongiforme Bovina, Programa de Sanidade Suídea, Programa Sanidade Ovina, Programa Sanidade Equina.

 

Existe um cálculo da quantidade de indivíduos em solo catarinense?

Não. A princípio, não há registro de população de Axis axis estabelecida em vida livre em Santa Catarina, o que existem são registros de indivíduos isolados em diferentes municípios.

Em 2019, houve o primeiro registro de um indivíduo em vida livre no estado e, após esse primeiro registro, ocorreram mais 17 outros registros que chegaram ao conhecimento do IMA, com padrão de ocorrência disperso, em municípios distantes. Portanto, possivelmente esses indivíduos são oriundos de escapes ou de solturas de cativeiro, e não da dispersão da espécie a partir de países ou estados vizinhos.

 

Ele compete com as espécies nativas por alimento?

Os cervos axis são mamíferos de médio porte, com fêmeas pesando até 60 Kg e machos até 90 Kg. Portanto, são maiores que os cervos nativos em Santa Catarina, como o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) que possui porte menor, com peso médio de 18kg, e o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) com peso médio entre 30 e 40 Kg. 

Além disso, os cervos axis vivem em grupos de 2 a 38 indivíduos, mas já foram registrados grupos com até 300 indivíduos, o que potencializa sua capacidade de impactar a fauna nativa e também culturas agrícolas. Já os cervos nativos em Santa Catarina possuem hábitos solitários.

Os cervos axis habitam áreas de campos abertos, pastagens e florestas abertas, em altitudes abaixo de 1.000 metros e a área de vida é de 180 a 890 ha. Portanto, podem competir por áreas de pastagens tanto com herbívoros nativos como também com animais domésticos de criação.

 

Possui predador?

As espécies exóticas invasoras podem afetar toda a estrutura do ecossistema onde são introduzidas, de forma que não é possível esperar que elas possam ser controladas por predadores naturais, ainda que haja espécies predadoras em potencial.

  

Pode comprometer a produção agrícola ou causar impacto no ecossistema?

Por ser uma espécie que vive em grandes grupos, a instalação de populações no estado de Santa Catarina pode resultar em impactos não só em ambientes naturais, como também em pastagens e lavouras, conforme já registrado em locais onde a espécie foi introduzida, além do risco de transmissão de doenças supracitadas.

 

Há estudos para a possível liberação de caça, a exemplo do javali? 

É importante frisar que, uma vez que essa espécie estabeleça populações em um local, é bastante improvável que esta seja totalmente erradicada, não importando os meios empregados. Por isso, a melhor forma de controle ainda é a prevenção da invasão.

Por isso, o IMA, no âmbito do Programa Estadual de Espécies Exóticas Invasoras, está promovendo ações de prevenção à instalação de populações no estado, como a publicação da Portaria IMA nº157/2022 que proíbe a posse, o domínio, o transporte, o comércio, a aquisição, a soltura, a translocação, a propagação, a criação e a doação da espécie no estado. Ficou proibida a introdução da espécie em território catarinense para quaisquer fins e o manejo em vida livre por pessoas físicas, sendo que o controle deve ser executado pelos órgãos competentes do Estado e da União. Além disso, o IMA produziu material informativo impresso e digital para que novas ocorrências sejam informadas por meio do e-mail fauna@ima.sc.gov.br.

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