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Com a doença, espigas não se forma nos pés de milho
Epagri / Divulgação
O problema não é isolado, também afeta outras regiões do Estado. Além do prejuízo direto ao produtor rural, a redução na colheita deve encarecer a produção de bovinos, suínos e aves
Os produtores rurais de Bocaina do Sul cultivaram, este ano, cerca de dois mil hectares com lavouras de milho. Normalmente a produção é de 7.200 quilos por hectare, mas este ano as lavouras foram atacadas pela cigarrinha-do-milho e o resultado foi devastador. Segundo a Epagri, em algumas lavouras as perdas foram de 20% e em outras de 100%, ou seja, perdeu-se tudo o que foi plantado. Em média, a estimativa de quebra é de 50%. Diante da gravidade, a prefeitura estuda a possibilidade de decretar Estado de Emergência, status que permitirá buscar recursos junto aos governos Estadual e Federal.
Valberto Henckemaier, extensionista rural da Epagri, explica que existem registros de infestação da cigarrinha-do-milho desde a década de 1970, mas nos últimos anos a incidência está maior. Este ano existem registros em praticamente todo Brasil e os prejuízos serão enormes, ao menos, esta é a estimativa, já que a safra não foi colhida totalmente. Ao depositar seus ovos, a Cigarrinha contamina a produção com duas bactérias e um vírus. Desta forma, o milharal cresce, mas os grãos não se formam nas espigas. O processo é chamado de enfezamento do milho.
Para não perder totalmente a produção, os agricultores estão fazendo silagem. Moem tudo, bagaço e até as folhas. Sem os grãos, a silagem é considerada de baixa qualidade e não terá muito resultado calórico como complemento na ração animal durante o inverno. Ou seja, os pecuaristas gastarão mais para evitar que os animais percam peso. O mesmo ocorre com a produção de aves e suínos.
Como ocorre a infestação
A cigarrinha infesta as lavouras entre 20 ou 30 dias após o plantio. Segundo Valberto Henckemaier, não há mais o que fazer. "Ela atinge principalmente as lavouras mais vulneráveis, como uma gripe ataca uma pessoa debilitada. As folhas ficam pálidas ou avermelhadas, o tamanho do pé diminui e os grãos não se formam." O fenômeno da redução do tamanho da lavoura é chamado de "milho anão."
Principalmente todas as lavouras cultivadas mais tarde foram infectadas. Essa praga está atacando lavouras em todo o Brasil e, este ano, a incidência está elevada em Santa Catarina. Bocaina do Sul tem investido muito na produção de grãos e não escapou da infestação.
O que pode ser feito
As indústrias estão investindo na produção de sementes de milho resistentes às bactérias da cigarrinha. Então, uma prevenção dos produtores é escolher sementes resistentes a essa praga. Outra questão é manter vigilância constante sobre a área da lavoura. Valberto explica que, após a colheita, geralmente a área é usada para o cultivo de pastagem, mas sempre cai um grão ou outro na terra. Esses pés de milho que nascem precisam ser arrancados imediatamente. "Geralmente estão contaminados e se não forem arrancados perpetuarão a praça de um ano para o outro."
Outra alternativa, aponta Valberto, é fazer um vazio sanitário, ou seja, por um período manter a área da lavoura sem nenhuma planta viva. Desta forma, se interrompe o ciclo de vida do inseto. Outra ameaça, são as lavouras cultivadas mais no tarde, comuns em regiões mais quentes do estado.
"Por exemplo, estamos próximos da região de Alfredo Wagner, que por ser mais quente produz o ano inteiro. Se estiverem contaminadas, a cigarrinha pode migrar por quilômetros ou vir na carga de um caminhão, disseminando a doença nas lavouras da Serra Catarinense," explica o extensionista rural da Epagri.
Prefeitura quer decretar estado de emergência
O prefeito de Bocaina do Sul, João Eduardo Della Justina, aguarda os relatórios de perdas para mobilizar a Defesa Civil e decretar situação de emergência. O município é essencialmente agrícola e ele prevê grande impacto econômico e social com a redução na produção das lavouras de milho.
O objetivo é captar recursos estaduais e federais que possam amenizar a situação dos produtores rurais, inclusive com postergação do pagamento de possíveis financiamentos rurais, obtidos para o custeio das lavouras.
É o resultado da produção agrícola que movimenta os demais setores da economia, como Comércio e Serviços. Felizmente, as produções de soja, feijão e de hortaliças não foram afetadas.
Foto: João Eduardo Della Justina
Crédito: Mauro Maciel
Situação em Santa Catarina
Em Santa Catarina, nas regiões Oeste, Central e do Planalto Norte do Estado, em especial na safra 2020/21, tem-se observado um aumento na incidência de cigarrinha-do-milho e do complexo de enfezamentos. Há relatos de danos intensos, perdas totais de produção e de, inclusive, remoção da lavoura. A amplitude dos prejuízos depende do material cultivado, intensidade e severidade das infecções. Devido a diferenças de tolerância entre os híbridos, a incidência e severidade dos enfezamentos é bastante variada, com danos regionais maiores em locais onde predomina o cultivo de genótipos suscetíveis.
Estima-se que, os danos na "safrinha" de 2021, que é conduzida no primeiro semestre do ano, possam ainda ser bastante consideráveis, visto que há o potencial de cigarrinhas infectivas migrarem de cultivos da safra para os novos plantios.Neste sentido, a incidência da cigarrinha-do-milho tem ocorrido de forma generalizada em todas as regiões com danos econômicos variáveis na safra 2020/2021.
As macrorregiões mais afetadas são o Meio-Oeste, Oeste, Extremo-Oeste, Planalto Norte e Planalto Serrano. A constatação do problema tem sido registrada por extensionistas, técnicos de Cooperativas, Empresas de Assistência Técnica e de Agropecuárias. A seguir apresenta-se um relato da situação atual nas principais regiões do Estado.
Fonte: Epagri
Estado registra deficit na produção de milho
Segundo o site suino.com, atualmente Santa Catarina registra um deficit anual de 3,5 milhões de toneladas do grão, sobretudo devido a sua utilização para a alimentação de aves e suínos. Desta forma, todos os anos importa milho dos estado do Centro Oeste do Brasil e disputa preços com outros países importadores.
É que nosso estado é o principal produtor de suínos e o segundo na produção de aves. O milho é importante insumo para a composição da ração animal. A quebra registrada em função da cigarinha-do-milho exigirá maior quantidade importada. A praga ganha força justamente quando todas as regiões estão investindo para ampliar a área plantada e também a produtividade por hectare.
Para baratear o custo de transporte do Mato Grosso até Santa Catarina, estudou-se até a possibilidade de transportar o milho em trens. O grão seria estocado em um terminal com silos em Lages e depois transportado por caminhões até a região Oeste, principal criadora de aves e suínos. A ideia não vingou porque existe uma diferença de bitola de trilhos, em uma extensão de 100 quilômetros no estado de São Paulo. Ou seja, a carga teria que ser baldeada de um trem para o outro, inviabilizando a operação.
Fotos: Milho danificado 4 ou 5
Crédito: Epagri / Divulgação
Legenda: Com a doença, espigas não se forma nos pés de milho
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