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Poços artesianos amenizam efeitos da estiagem na Serra

  • A Localidade de Cadeados, em Lages, foi uma das beneficiadas com a parceria entre Cisama e prefeituras

    Amures / Divulgação

De julho de 2019 até o final do mês de novembro deste ano, deixou de chover mais de 600 milímetros na Serra Catarinense, afetando principalmente o meio rural. Para mitigar os efeitos, o Consórcio Intermunicipal Serra Catarinense (Cisama), órgão do Sistema Amures, já perfurou 17 poços artesianos. Outros quatro ou cinco devem ser concluídos até o final deste mês. 

Esta semana, os trabalhos se concentram em Ponte Alta e depois as máquinas serão deslocadas para Bom Retiro, Urubici, Bom Jardim da Serra, Otacílio Costa , Palmeira e Bocaina do Sul. Selênio Sartori, diretor executivo do Cisama, informa que os municípios de São Joaquim, Lages, Rio Rufino, Bocaina do Sul, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Correia Pinto e Anita Garibaldi já implantaram dois poços cada. Cerro Negro recebeu um, totalizando 17 unidades.

Nos últimos três anos, choveu menos que o esperado em Santa Catarina e a previsão, segundo Selênio, é que essa seja a tendência dos próximos sete anos. Assim, em 2019, as prefeituras de Bocaina do Sul, Urupema e São José do Cerrito começaram se mobilizar em busca de uma solução que viabilizasse a implantação de poços artesianos.

Em dezembro de 2019, via um termo de cessão de uso, um conjunto de equipamentos da Secretaria de Estado de Agricultura: uma perfuratriz, quatro pneumáticas (perfuratriz movida a ar) e caminhões de transporte foram cedidos para a Amures, via Cisama. Foi a forma encontrada para viabilizar, de forma barata, a implantação dos poços para toda a região.

"Normalmente, todos os equipamentos são transportados por quatro caminhões. Para agilizar, adotamos um sistema que usa apenas dois caminhões," comenta Sartori, ao lembrar que o Governo do Estado comprou três conjuntos de equipamentos e dois não estavam em uso, o que permitiu a cessão.

Vencida a parte burocrática, o Cisama contratou um geólogo no mês de abril e em maio, dois operadores que trabalham com os equipamentos de perfuração.


Primeiro poço foi em São Joaquim

O primeiro poço foi perfurado no Bairro Madre Paulina, em São Joaquim. Essa é a única das 17 unidades que está no perímetro urbano. Na época, o município e, principalmente, a cidade passava por um problema crítico de abastecimento. O Rio Antonina, de onde a Casan capta água para abastecer a cidade, estava praticamente seco. Nem mesmo o racionamento resolveu o problema.  

De forma emergencial, caminhões pipa buscavam água no Rio Lava Tudo e despejavam no Antonina. Assim que o Cisama formou a equipe de perfuração, em conjunto, os demais municípios da Serra decidiram que São Joaquim seria atendida primeiro. O poço foi perfurado com sucesso reforçando o abastecimento no perímetro urbano.

Como funciona o processo

Para viabilizar a instalação dos poços, o Cisama entra com os equipamentos, a parte mais cara, e os municípios pagam o tubo geomecânico, fornecem dois colaboradores para serviços braçais e, após a conclusão do poço, se responsabilizam pela parte de bombeamento e distribuição da água. 

O custo dos funcionários, diesel e manutenção dos equipamentos é rateado entre os municípios. Em 2020, o custo é de R$ 9 mil para cada um, com a previsão de perfurar três unidades para cada município. "Antes desta parceria, as prefeituras pagavam por metro perfurado. Muitas vezes gastaram R$ 40 mil e perdiam todo o valor, já que o poço dava seco," lembra Sartori.

Para fazer uma rodada mais rápida, estão perfurando dois poços por município. Caso não tenha sucesso, muda-se o local, o único custo extra da alteração é com o diesel. As prefeituras entram também com a alimentação e a água usada no processo de perfuração. Não é muito. Os caminhões têm reservatórios de mil litros cada e, geralmente, não precisa reabastecer.

Para se ter uma ideia de valor de equipamento, uma ponta de perfuração (bitz) custa R$ 3,5 mil e tem autonomia somente para dois mil metros.

Decisão do local é técnica 

Para decidir os locais onde serão perfurados os poços, o geólogo contratado pelo Cisama realiza um estudo técnico, feito com base em mapas georeferenciados. São mapas elaborados com trabalho de aerofotolevantamento feito pelo Governo do Estado. O geólogo avalia também dados da hidrologia, geologia e a declividade do terreno.  

Dessa avaliação surge o Estudo de Potencialidade. Em alguns lugares, a equipe concluiu que tinha apenas 15% de chances de encontrar água. Em outros, os poços seriam muito profundos, com cerca de 600 metros, o que tornaria o processo muito caro.

"Nós estamos perfurando poços pouco profundos, com 120 metros e até com 180 metros. Já chegamos a 220 metros. Nossa capacidade é de 400 metros de profundidade, mas não vale a pena perfurar poços muito profundos. O custo do equipamento é muito alto," diz Sartori.

A partir deste estudo, a prefeitura municipal faz um decreto de desapropriação da área, como objeto de interesse público. Já ocorreu do proprietário não aceitar a indenização proposta e o caso ser decidido na Justiça.


De onde vem a água

Basicamente, a água é extraída de doi locais. Do Aquífero Guarani, que tem mais de 130 milhões de anos e do derrame do basalto, que se formou sobre o Aquífero há aproximadamente 120 milhões de anos. Desta forma, poços mais profundos permitem a retirada da água diretamente do Aquífero. Perfurações mais rasas extraem das fendas da camada de basalto.   

Uso da água deve ser estritamente racional

O diretor executivo do Cisama, Selênio Sartori, costuma dizer que ao extrair as águas do subterrâneo estamos usando recursos do futuro. Ele entende que essa água é uma reserva natural para as próximas gerações e, portanto, deve ser usada com muito disciplina.  

"Nossa prioridade é o abastecimento comunitário. A etapa seguinte é a gestão coletiva desse poços. Não adianta perfurar e ter o desperdício de água. Essa água é de muita qualidade, estamos falando dos recurso hídricos do futuro. A gente está falando da água do futuro. Não dá para utilizar indiscriminadamente." Para ele, é uma discussão que tende a se aprofundar, já que são previstos mais sete anos de estiagem.

Existem comitês de bacia hidrográficas, e as entidades que são os gestores públicos da água, a exemplo da Semasa, em Lages. São eles (comitês e entidades) que precisam discutir o melhor uso dessa água e criar regras que devem ser obedecidas por todos.

Selênio acredita que no futuro a água extraída dos poços será tarifada, principalmente para grandes consumidores. Para os pequenos existirão tarifas sociais, mas a tarifação é importante para que se dê valor.

"Em nossa região nascem os principais rios do estado. É uma região que preservou, deveria ter compensação financeira por ter preservado. No futuro, acredito que deverá ocorrer o pagamento pelo uso da água, mas essa decisão cabe aos comitês," conclui Selênio.

Apoio do Governo do Estado

Cada município tem uma realidade. Alguns fornecem apenas o bombeamento da água dos poços e outros até a rede de distribuição para a comunidade. Em Rio Rufino, a comunidade vizinha ao poço financiou o projeto de distribuição.  

Mas o Governo do Estado já sinalizou com uma linha de crédito de R$ 7 milhões. Os recursos ainda não estão liberados, mas poderão ser usados tanto no diesel usado na perfuração, quando na implantação do bombeamento e rede de distribuição.

O Estado tem várias outras medidas para auxiliar as vítimas da estiagem, de linhas de crédito de financiamento de diesel para caminhões pipa ou para kit de perfuração, seguro agrícola e programas de aquisição de alimentos. Esse processo é gerido pelo comitê anti-crise do estado, presidido pelo secretário de Estado de Agricultura, Ricardo de Gouvêa.

Foto principal: Poço artesiano cadeados Lages

Crédito: Amures / Divulgação

Legenda: A Localidade de Cadeados, em Lages, foi uma das beneficiadas com a parceria entre Cisama e prefeituras

Foto secundária: Selênio Sartori 1

Crédito: Mauro Maciel

Legenda: Selênio mostra bitz de perfuração que custa R$ 3,5 mil


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