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Entrevista

Banco da Família comemora 24 anos com muitas conquistas

Pela avaliação da Micro Rating, uma agência americana, o BF foi avaliado como o terceiro melhor do mundo e o primeiro do Brasil

Há exatos 24 anos, nascia, em Lages, o Banco da Mulher, hoje, Banco da Família, uma instituição de microfinanças para impulsionar o empreendedorismo. Nesse período, contribuiu para o desenvolvimento social e econômico das famílias. Suas práticas renderam reconhecimento e prêmios, a exemplo do que receberá na terça-feira (25), da ADVB de Empresa ESG (Environmental, Social and Governance). E, pela avaliação da Micro Rating, uma agência americana, o BF foi avaliado como o terceiro melhor do mundo e o primeiro do Brasil.

A presidente do BF, Isabel Cristina Baggio, conversou com o Folha da Serra.

 

Folha da Serra - Como surgiu a ideia de implantar, em Lages, um banco de microfinanças?

Isabel Baggio - O banco nasceu de uma ideia da do Núcleo da Mulher Empresária da Acil, quando eu era a vice-presidente da Associação Empresarial. Nós tomamos conhecimento da existência das microfinanças através de uma palestra feita pela então presidente do Banco da Mulher do Uruguai, que esteve em Concórdia. Daí, começamos a pensar na ideia de fazer alguma coisa em relação a Lages, sempre dentro da perspectiva de que Lages tinha e tem ainda índices de desenvolvimento baixos, e as pessoas de baixa renda tinham necessidade de acesso ao crédito, de acordo com uma pesquisa que o Sebrae tinha feito à época. Então, já como presidente da Acil, chegamos à conclusão de que a Acil tinha uma responsabilidade em relação a fazer alguma coisa para melhorar a economia da cidade. Fizemos pesquisas para saber onde existiam organizações dessa natureza e fomos buscando conhecimento para ver que modelo poderíamos fazer aqui. Uma das visitas foi ao BNDES, que nos disse que a cada um real que nos captássemos, ele emprestaria dois reais. É claro que em uma iniciativa como essa, o mais importante de tudo seria ter recurso para fazer os empréstimos. Então, chegamos de volta dessa reunião e conversamos com o Sebrae, que foi sempre um órgão bastante próximo de nós, e das microfinanças em geral. Concluímos que deveríamos buscar o capital dentro da cidade. Porque o Banco da Mulher, inicialmente, iria atender a cidade de Lages. Então, fomos visitar as empresas e fizemos um porta-a-porta e captamos um recurso de R$120 mil. Naquela época, o coordenador de uma câmara setorial da Acil, o Lauro Costa, também trabalhava na Secretaria de Desenvolvimento do município e foi feito um projeto de, por meio do qual, esse fundo se destinava ao fomento. Esse fundo teve um endereço, que era apoiar o então o Banco da Mulher. Reunimos esse capital e começamos a emprestar. Quase um ano depois, recebemos o primeiro aporte, que inclusive foi numa Festa do Pinhão. No dia 6 de junho de 1999, recebemos dois empréstimos de R$500 mil de cada uma das organizações, Badesc e BNDES, e começamos a operar com mais velocidade, porque tínhamos assumido a dívida e essa dívida teria de ser paga, como foi. E, aí, começou o Banco da Mulher de forma bastante tímida, ainda lá dentro da Acil. Em seguida, fomos compartilhar o espaço com o Sebrae e o Badesc, lá da Avenida Presidente Vargas. Em 2003, trocamos de nome para Banco da da Família, mas sempre preocupados em participar da Rede Internacional Banco da Mulher, com um olhar internacional, porque naquela época não existia aqui no Brasil operações bem-sucedidas de microfinanças, então como fora do Brasil já tinham experiências bastante exitosas, fomos buscar tecnologia, assessoria técnica pra que a gente pudesse fazer as coisas de forma correta.

 

Quando vocês começaram a trabalhar nesse projeto, imaginaram que o banco chegaria aonde ele está hoje, do tamanho que está hoje?

Não, eu não imaginava. Nosso limite de visão estava restrito a atender Lages e, no máximo, a microrregião. Hoje, atendemos Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, através de seis gerências regionais.

 

Quantos empréstimos e quais os valores o Banco da Família já emprestou nesse período?

São 400 mil empréstimos. E como se faz o cálculo de que em cada família tem pelo menos quatro pessoas, então, estamos falando de um 1,6 milhão de pessoas impactadas e em volumes financeiros, sem correção, são R$1,2 bilhão nesse período.

 

Inicialmente, os empréstimos eram só para as mulheres?

Não. É chamado Banco da Mulher porque usávamos uma grife do Banco Mundial da Mulher. Mas sempre emprestávamos para homens e mulheres. O que, às vezes, acontecia, era que os homens ficavam acanhados em procurar o Banco da Mulher. Mas, mesmo assim, até hoje a predominância são as mulheres como nossas clientes. Não é o percentual tão maior, mas atendemos, dentro dos nossos valores, preferencialmente, as mulheres. Alguns produtos são para as mulheres, como por exemplo, saneamento, casa e saúde. Em geral, na família, quem cuida desse tipo de produto e investimento são as mulheres, em geral, quem quer melhorar a casa, quem quer fazer um banheiro, enfim, quem precisa cuidar da saúde da família também são as mulheres. Então, em geral, os produtos desse tipo são produtos que são buscados por mulheres. Mas sempre atendemos homens também.

 

Inicialmente, o objetivo eram os empréstimos de valores baixos, e que não eram acessíveis às pessoas de baixa renda em outras instituições financeiras. Hoje, além dos empréstimos, o banco desenvolve inúmeros outros projetos. Que projetos são esses?

A nossa média de empréstimos ainda é de R$5 mil e nossos clientes estão na faixa dos três a cinco salários-mínimos de renda familiar. E, há alguns anos, temos desenvolvido projetos, que são produtos não financeiros. Temos uma linha de dezesseis produtos.

Vale esclarecer que o mundo das microfinanças está dividido em microcrédito, que é o crédito para o negócio, e os outros produtos fazem parte da indústria de microfinanças. Seja saúde, educação, moradia, saneamento. Percebemos que nossos clientes tinham outras necessidades e fomos criando outros serviços. Por exemplo, quando alguém morre numa família e as pessoas não têm recursos para fazer o serviço funerário e tudo mais. Ou a pessoa tem um banheiro, mas o banheiro está em situação precária, então é o que as pessoas precisam. Por conta das necessidades que foram sendo apresentadas, estamos criando outros projetos. Temos dois principais projetos: o Despertar que resgata a cidadania das pessoas no sentido de perceberem em que situação estão. São analisados seis pilares e cinquenta e seis indicadores que colocam a família na cor vermelha, cor amarela ou na cor verde. A partir daí, a família estabelece um planejamento muito simples, mas que ela se apropria da situação e toma decisões. E o Banco da Família faz o acompanhamento.

Outro projeto é o Produtores da Serra, que começamos na pandemia e consiste em fomento aos pequenos negócios de alimentos que são, em geral, oriundos da agricultura familiar e estamos ajudando na comercialização. São 17 empresas cadastradas, em torno de 100 produtos produzidos por elas. Conseguimos colocar os produtos em alguns supermercados. Estamos fomentando que eles estejam em outros lugares e também no Instagram.

 

Daqui para frente, o que que você espera do banco?

Espero mais crescimento. A cobertura das microfinanças no Brasil ainda está bastante aquém das possibilidades. Então, para o Banco da Família, que nasceu em Lages, dentro de uma perspectiva de atender só uma cidade, e estamos em 212 municípios, temos a intenção de ir além dos estados que o banco já está. Temos alguns projetos de expansão digital, é um piloto. Atendemos uma família do nordeste, a primeira família que veio buscar o microcrédito. A gente espera poder chegar, sem perder a essência, remotamente, em locais no Brasil aonde as pessoas ainda não têm a oportunidade de acessar o microcrédito. Oferecer crédito a todas as pessoas que buscarem apoio, independentemente do local onde elas estejam. Tem muito espaço para crescer. Claro que, de forma muito cuidadosa, para não endividar a instituição e não causar problema para as pessoas no seu endividamento.


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