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Prédio abrigou a Farmácia Guega, a primeira de Lages, em 1869
Blog Nelson Boeira / Divulgação
Neste mês, Lages completa 258 anos de fundação. Em suas páginas, o Folha da Serra vai relembrar de fatos e situações pitorescas, para não se dizer curiosas, que foram extremamente importantes para a construção de um dos principais municípios de Santa Catarina
Quem é atendido em uma clínica ou hospital de Lages por um médico especialista e com equipamentos de última geração, sequer imagina como eram os tratamentos de saúde na época da fundação do município, em 1766.
Em sua comitiva, o fundador Antônio Correia Pinto de Macedo não incluiu a presença de alguém da área da saúde, “alguém dado às artes de curar”. Ele mesmo distribuía os remédios, como conta em seu livro, Continente das Lages, o escritor e historiador Licurgo Costa.
Sem a presença de um médico, os problemas de saúde eram tratados com ervas receitadas por familiares ou por curandeiros, como o citado pelo escritor e jornalista, Névio Fernandes: Onofre, o curandeiro. “Com longas barbas, unhas grandes, olhar penetrante e voz mansa, ele curava e profetizava”.
Os fundadores trouxeram macela, losna, sabugueiro, funcho, hortelã e folhas de goiabeira, além de emplastros. Segundo o livro o Continente das Lagens, Correia Pinto relatou que o clima era sadio e que as pessoas que passavam por aqui, geralmente tropeiros, não portavam doenças contagiosas. Boa notícia, porque sem profissionais do ramo e sem hospitais, cirurgias eram realizadas em casos extremos.
O risco de morte nesses procedimentos era alto. O paciente geralmente era amarrado à mesa da casa, seguro por familiares enquanto alguém com mais conhecimento fazia o corte, na maioria das vezes amputação de membros. Não existia anestésicos. Assim, gotas de clorofórmio eram pingadas em um pano amarrado no nariz do paciente.
Também de acordo com Licurgo Costa, Pedro da Silva Ribeiro, vindo de uma Localidade chamada Tijucas, próxima de onde atualmente é Bom Jardim da Serra, foi o primeiro curandeiro da vila. Ele distribuía gratuitamente chás e ervas para a população.
O primeiro médico formado a trabalhar em Lages foi Hartwigo Frederico Emilio Rambusch. Entre 1865 e 1870 serviu como cirurgião na Guerra do Paraguai. Em 1858, chegou a Lages Hermógenes de Miranda Ferreira Santo, formado na Bahia, com pretensão de montar um consultório em Lages. O primeiro médico lageano foi Walmor Argemiro Ribeiro Branco, que se formou em 1911, no Rio de Janeiro.
Curiosidade, SUS tem DNA lageano?
Reza a lenda que o modelo de gestão adotado pelo SUS à época de sua criação, em 1988, pode ter surgido em Lages, mais de uma década antes.
Durante a gestão de Dirceu Carneiro e Celso Anderson de Souza, que durou de 1977 a 1983, a dupla emedebista criou um sistema de atendimento médico nos bairros e no interior do município para desafogar as filas de espera por consulta que, até então, aconteciam somente na sede da Previdência Social, em um prédio no Centro da cidade, atualmente utilizado pelo INSS.
Até os idos dos anos de 1970, era comum que as pessoas amanhecessem em gigantescas filas na sede da Previdência Social, na expectativa de conseguir uma vaga para se consultar no dia seguinte.
“Acabaram as fichas para o médico…” era a frase mas temida por quem passava a madrugada em claro na fila, pois significava que teria que voltar na noite seguinte, mesmo sem ter certeza que conseguiria a ficha.
Com o apoio das Associações de Moradores, Carneiro e Anderson desenvolveram um projeto que levava médicos aos bairros e ao interior de Lages, que à época era muito maior, pois englobava distritos como Correia Pinto, Otacílio Costa, Capão Alto, Palmeira, dentre outros, que mais tarde emanciparam-se e se tornaram municípios.
As associações de moradores construíam ou emprestavam locais que funcionavam como postos de saúde. Da comunidade também saiam as voluntárias que passavam por um curso oferecido pelo município e se tornavam agentes de saúde.
“Nestes postos o médico tinha o prontuário de cada um, que a agente de saúde fazia. Ele sabia o que a pessoa teve, que remédios tomou, o resultado de exames e assim por diante. Começou aí uma medicina preventiva familiar, porque o médico acabava por conhecer todos da comunidade.
Esse processo começou a ser implantado e as filas no centro reduziram, porque os médicos foram em definitivo pros bairros”, comenta Carneiro, lembrando que as consultas com especialistas continuaram acontecendo no Centro, pois os bairros contavam com clínicos gerais.
Com os postos funcionando a pleno vapor nos bairros e comunidades do interior, Carneiro foi audacioso. Ao lado de sua equipe de gestores, o que inclui Souza, ainda no fim dos anos de 1970, elaborou um dossiê e apresentou o projeto ao então ministro da Previdência Social, Jair Soares.
A partir desta conversa e depois de estudos pertinentes, foram criados 20 projetos-piloto, seguindo os moldes desenvolvidos em Lages, em cidades de todo o Brasil. Segundo Carneiro, anos mais tarde este modelo acabou servindo como base para criação da sistemática de atuação do SUS.
*Este texto foi escrito pela jornalista Núbia Garcia para o Correio Lageano
Inamps só atendia quem estava empregado
O SUS é relativamente recente. Foi criado pela Constituição Federal de 1988, que também determinou como dever do Estado a garantia do direito à saúde por todos os brasileiros.
Porém, as bases para a criação de um sistema nacional de saúde foram instituídas muito antes, ainda na Primeira República, no início do século XX.
Segundo historiadores, naquele momento, se falou pela primeira vez em um sistema verticalizado e caracterizado pela concentração de ações no governo central. Entretanto, com os muitos problemas sanitários que o Brasil enfrentava, havia um longo caminho a seguir.
Mais tarde, durante a ditadura militar, o governo decidiu centralizar os recursos da previdência. Em 1966, surgia o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que garantia assistência médica aos segurados.
Porém, a necessidade de contratação de serviços privados de saúde para que essa assistência fosse oferecida levou a déficits orçamentários.
Em 1977, o INPS foi desmembrado. De um lado, deu origem ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). De outro, o regime militar criou o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps).
Diferentemente do modelo antigo, o Inamps tinha estabelecimentos próprios de saúde. Entretanto, os procedimentos seguiram sendo realizados pelo setor privado.
Através do Inamps, só tinha direito à saúde no país as pessoas que estavam empregadas com carteira assinada. Quem não possuía vínculo formal de trabalho precisava arcar com os custos do sistema privado de saúde ou recorrer às Santas Casas. Essas eram instituições religiosas e filantrópicas que amparavam as pessoas carentes.
Décadas de 1970 e 1980_A partir dos anos 1970, durante a crise do petróleo, o Inamps passou a ter prejuízos financeiros, que aumentavam o déficit previdenciário a cada ano.
Com a crise da previdência no início da década seguinte, teve início no país uma discussão sobre uma possível privatização. Cogitavam em passar o espólio da assistência médico-hospitalar para ser apropriada pelo seguro-saúde privado.
Em 1986, foi convocada a VIII Conferência Nacional de Saúde, que discutiu a reformulação do Sistema Nacional de Saúde. Foi um marco histórico para a saúde pública do Brasil. O Sistema foi então aprovado na Assembleia Nacional Constituinte de 1987, resultando na criação do SUS pela Constituição Federal de 1988. O Inamps foi extinto apenas no ano de 1993.
Fonte: futurodasaude.com.br
Foto: Farmácia Antiga
Legenda: Prédio abrigou a Farmácia Guega, a primeira de Lages, em 1869
Crédito: Blog Nelson Boeira / Divulgação
Foto: Seringa
Crédito: Divulgação
Legenda: As primeiras seringas não eram descartáveis. A esterilização era feita com água fervente
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