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História

Orozimbio Pereira de Souza é destaque no projeto ‘Urupema Tempo e Memória’

O projeto visa a resgatar histórias de vida de pessoas que nomeiam as ruas do Município de Urupema, e, que de alguma forma, contribuíram para o enriquecimento da cultura local

A vida de Orozimbio Pereira de Souza é destaque no projeto ‘Urupema Tempo e Memória’, contando com informações e dados familiares, tanto de Orozimbio como de sua esposa Lavinia, repassadas pelos netos Inécio Pagani Machado, Ana Maria Netto (Nane), Cléria das Graças Souza (primeira neta), Evandro Frigo Pereira; e pela nora, Célia Frigo Pereira, viúva de José Jaime Pereira; o filho mais novo do casal Orozimbio e Lavínia.

Por se tratar de um personagem nascido no século XIX (1899) e falecido há quase 60 anos, além de ter sua descendência direta (filhos e filhas) também já falecidos, e a terceira geração (netos e netas), que pouco ou nunca conviveu com o avô, foi necessária minuciosa pesquisa para alinhar momentos importantes de sua trajetória de vida.

De início, foram encontradas três grafias diferentes para o nome do homenageado. Nos anos 1800 e 1900, era comum se encontrar grafias do mesmo nome de formas diferentes, fosse pela dificuldade de elaboração de documentos, erro em redação, etc. Pela Lei nº 255/96, de 31 de dezembro de 1996, o então prefeito de Urupema, Nelton Rogério de Souza, sancionou projeto aprovado pela Câmara de Vereadores nominando a via pública, em referência, como, Ourozimbo Pereira de Souza.

No jazigo onde descansam seus restos mortais, no Cemitério Municipal de Urupema, o seu nome está escrito como Ourozimbio Pereira de Souza. Na placa nominativa da via pública municipal, porém, prevalece o nome Orozímbio Pereira de Souza.

Aspectos de vida pessoal e familiar

Os primeiros dados resgatados foram repassados pelo neto Inécio, ainda que, a esta época de vida, pouquíssima tenha sido sua convivência com o avô.

Orozimbio Pereira de Souza “foi casado com Lavinia Antunes Amorin e teve dez filhos, sendo três falecidos logo após o nascimento. Sempre residiu na Avenida Manoel Pereira de Medeiros, mesmo local onde viveu o seu filho José Jaime e família. Era meu avô paterno. Era uma pessoa carismática e de um estilo peculiar que lhe evidenciava uma personalidade e caráter incomuns. Foi, durante toda a vida emancipada, líder político, sempre no mesmo partido: UDN (União Democrática Nacional), sob a liderança estadual de Irineu Bornhausen, de quem tinha apreço especial e não media esforços para trabalhar nas campanhas eleitorais. Eram famosas as suas ‘birras’, mesmo em casa e com tudo que não saía como queria ou planejava, pois primava por linha de opinião própria e fazia disso um dos pilares que angariava respeito e se fazia acreditar pelo que realizava ou determinava para ser feito.”

“Tio Oro”, como também era conhecido, não falava muito, preferia retrair-se a si mesmo para ouvir mais que falar. Foi juiz de Paz do distrito de Urupema, durante muitos anos, deixando de exercer esse cargo quando a idade já não lhe dava condições que gostaria de ter para o exercício da função. “São apenas alguns detalhes da vida de mais um ilustre filho de Urupema”, contou Inécio Pagani Machado.

Colheitas da Memória

Orozimbio Pereira de Souza nasceu em 4 de janeiro de 1899, na região rural chamada Quebra-Dente, em terras próximas, onde, alguns anos depois, surgiria um pequeno povoado com nome de Sant’Anna (Santana), embrião da atual cidade de Urupema.

Orozimbio era filho legítimo de Francisco José Pereira e de Ana Felicidade de Souza. Ele criador de gado, ela doméstica, ambos naturais do estado de Santa Catarina.

No ano de 1921, aos 22 anos de idade e também já lidando com lavoura e gado, Orozimbio se casou com a jovem Lavínia Antunes Amorin, de 17 anos. Ela, nascida no município de Tubarão/SC, passou a morar na região de São Joaquim da Costa da Serra, em virtude de o pai ter sido nomeado escrivão para aquela cidade.

Orozimbio continuou a morar com a esposa na fazenda paterna no Quebra-Dente. Dessa união, nasceram 10 filhos, dos quais, três faleceram logo ao nascer ou na pré-infância. Outros sete atingiram a idade adulta: Joceni, Soni, Roseni, Maria Irene, Ana Eloy, Maura Ely e José Jaime. Todos, hoje, in memorian.

Após a morte dos pais, Orozimbo veio com a família morar no centro da Vila de Sant’Anna, à rua Manoel Pereira de Medeiros, esquina com a rua Olavo Pereira Machado, onde a família cresceu e se criou. Descendentes seus ainda residem no local.

Orozimbio se destacaria em outras funções e Lavínia se tornaria conhecida e respeitada como excelente “parteira”. Por suas mãos, nasceram incontáveis urupemenses.

O líder político

Orozimbio começou a se destacar como líder político. Respeitado e com opiniões firmes, era tido como conselheiro em épocas de eleições. Como cabo eleitoral, conquistava muitos adeptos para seus companheiros da UDN (União Democrática Nacional), seu partido político por toda vida. No dia a dia, e, principalmente, no ambiente doméstico, era uma pessoa reservada, de pouca conversa. Foi designado, por muitos anos, como juiz de Paz do distrito de Sant’Anna, depois nominado distrito de Urupema, a partir de 1944. Atuou, também, como Escrivão no Registro Civil do distrito de Urupema, junto a João Amarante Machado

Orozimbio não disputou nenhum pleito eleitoral. Mas sua inclinação política foi herdada pelo filho mais novo, José Jaime Pereira que, inicialmente, foi eleito vereador distrital quando Urupema era ainda distrito de São Joaquim, para um mandato de seis anos. Depois, foi eleito vice-prefeito de Urupema, em 1992, município já emancipado. Mais tarde, secretário municipal de Obras.

O último dos netos de Orozimbio, Evandro Frigo Pereira, filho de José Jaime e Célia, dá continuidade ao interesse pela atuação política do avô e de seu pai, elegendo-se prefeito de Urupema por dois mandatos consecutivos de quatro anos. Ele exerce, atualmente, a segunda gestão administrativa – 2021 a 2024.

Orozimbio faleceu em sua casa, em Urupema, em 8 de setembro de 1968. A esposa Lavínia veio morreu no hospital de São Joaquim, em 5 de julho de 1975.Os restos mortais de ambos estão no Cemitério Municipal de Urupema.

Descendência do casal Orozimbio e Lavinia

As pesquisas apontam numerosa descendência familiar do casal, tanto no passado quanto nos dias atuais. Muitos de seus descendentes vivem em Urupema e contribuem para o desenvolvimento do município.

• Joceni Antunes de Amorin (tio Nini) – nascido em 07/03/1922 e falecido em 06/10/2000.

Joceni se casou com Ilda Alves Medeiros e tiveram uma única filha e primeira neta do casal Orozimbio/Lavinia: Cléria das Graças.

• Soni Antunes do Amorin (tio Tona) – nascido em 03/05/1927 e falecido em 28/05/1991. Soni se casou com Irma de Souza Pereira e tiveram 4 filhos: Reni, Renato, Lúcia e Donizete.

• Roseni Antunes Machado (tio Rosa) – nascido em 03/02/1925 e falecido em 09/03/1996. Roseni e Ida tiveram 07 filhos: Herly Luiz; Pedro Helio; Francisco Enio; Inécio; José Arno; Maria Lenir; MariElsie.

• Maria Irene Pereira - nasceu em 11/02/1930 e faleceu em 09/01/2009. Não se casou e nem teve filhos. Maria Irene trabalhou durante 32 anos como enfermeira no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, de Lages, no setor de atendimento a hanseníase. Foi para o hospital, com cerca de 15 anos de idade, e ali, praticamente, acabou sendo criada pelas irmãs do hospital. Em 1977, dois anos após a morte de sua mãe Lavinia, ela ficou doente e se aposentou. Voltou para Urupema e passou a residir com sua irmã Ana Eloy, até o falecimento desta, em 2002. Irene, diante do fato, mudou residência para a casa de Maura Ely, outra irmã e ali faleceu em 2009. 

• Ana Eloy de Amorin Morais Madruga –nasceu em 07/02/1931 e faleceu em 09/02/2002. Bem jovem, por volta de 13 anos de idade, Ana Eloy foi morar com a doutora Renée Waltrick de Arruda Correia, conceituada e quase centenária médica urupemense, falecida em maio/2022 e com ela se criou. Mais tarde, Ana Eloy se casou com Ari Morais Madruga. Não tiveram filhos.

• Maura Ely Pereira Correa (tia Lita) – nascida em 24/09/1932 e falecida em 20/09/2014. Maura Ely se casou com João José Corrêa e tiveram  cinco filhos: Maria das Graças; Zaira Aparecida; Ana Maria; José Luis; Joel Donizete.

• José Jaime Pereira (tio Jaime) – nasceu em 24/08/1937 e faleceu em 11/05/2018.

Filho mais novo do casal Orozimbio e Lavinia, José Jaime casou-se com Célia Frigo e teve um filho: Evandro Frigo Pereira

O casal Orozimbio e Lavinia teve sete descendentes diretos, na figura dos filhos e filhas. Posteriormente, a estes se juntaram genros e noras, que acresceram ainda mais dezoito membros da terceira geração, através de netos e netas. Interessante ressaltar, que dos dezoito netos, cerca de catorze ou quinze deles, foram acolhidos em seu nascimento pelas mãos da avó e parteira Lavinia.

Lavinia, consagrada parteira de Urupema

Lavínia Antunes de Amorin nasceu no município de Tubarão/SC, em 5 de abril de 1904, filha de Júlio Antunes de Souza e Maria Cândida de Amorin. Aos 13 anos, passou a residir na região serrana de Santa Catarina acompanhando a família, pois o pai havia sido nomeado Escrivão na Vila de São Joaquim da Costa da Serra, já desmembrada de Lages.

Ainda adolescente, de forma voluntária, passou a cuidar de uma criança – José Jaime Vieira, filho de vizinhos de seus pais. Anos depois, conheceu o jovem Ourozimbio Pereira de Souza, com o qual se casou aos 17 anos, vindo morar nas imediações da Vila de Sant’Anna.

Sendo Ourozimbio descendente de agricultores, foi nesta atividade que constituiu parte de sua família. Desta união, nasceram 10 filhos, dos quais ainda vivem em Urupema os dois mais novos: Maura Ely Pereira (Tia Lita) com 79 anos, e José Jaime Pereira (Tio Jaime) com 74 anos.

Por volta dos 25 (vinte e cinco) anos, recebeu a visita de uma das irmãs – Maria Cândida (Tia Bilica), habilitada em realizar partos. Durante a estadia dela em sua casa, uma vizinha, prestes a dar à luz, pediu socorro e Lavinia recorreu à irmã. Enquanto sua irmã trabalhava, ia lhe explicando os procedimentos necessários para auxiliar uma gestante. Após este episódio, Lavínia passou a fazer os partos das amigas e vizinhas, primeiramente. Assim, com um parto após o outro, ia ganhando experiência e confiança em seu trabalho, que era sempre voluntário. A fama de boa parteira se espalhava e passou a ser chamada para atendimentos, cada vez mais distantes.

Alguns anos depois, vieram morar no centro da vila de Urupema, local onde mora o tio Jaime. (hoje, ali ainda reside Célia Frigo Pereira, viúva do tio Jaime). Como sabemos, na época de seus atendimentos, as idas e vindas ao trabalho eram feitas a pé, a cavalo, aranhas, de dia e ou de noite, com frio, chuva, geada, neve, através de picadas atravessando campos, capões, riachos... Aonde se podia chegar, lá ia a mulher, esposa, mãe e parteira. Confiante, alegre, rezando, com pressa, pois a criança não podia esperar para nascer. Com os poucos recursos que dispunha, obtinha bom sucesso nos partos que realizava. Foram, aproximadamente, 47 anos dedicados à atividade. Ela acompanhava a gestação e sabia quando o parto necessitava de recursos melhores. Encaminhava, então, a parturiente para o médico. Nenhuma parturiente morreu em suas mãos.

A vida passou, veio a viuvez aos 64 anos (1968). Ela continuava firme na missão, contando, em casa com a companhia do filho mais novo, José Jaime. Aos 69 anos, no final de 1973, acidentalmente, sofre fratura na parte superior do fêmur. Veio a cirurgia, a recuperação. Muitas limitações surgiram, como caminhar pouco e a necessidade de uso de muletas. Mesmo assim, ainda realizou alguns partos. Em 6 de julho de 1975, faleceu no hospital de São Joaquim, vítima de enfizema pulmonar. Seus restos mortais estão no Cemitério Municipal de Urupema. Não foram poucas as mulheres que, em oração, continuaram a pedir a graça de um bom parto por intercessão de sua alma.

Em 11 de dezembro de 1998, foi criada em Urupema a Associação Núcleo de Aprendizagem e Produção Lavinia Antunes Amorin, entidade considerada de Utilidade Pública Municipal e Estadual

Sobre o projeto

O projeto cultural ‘Urupema Tempo e Memória’, idealizado e desenvolvido, voluntariamente, por Eleni Cássia Vieira e Carlos Solera. Conta com parceria técnica do Blog Genealogia Serrana de Santa Catarina, com as pesquisadoras e escritoras, professoras Ismênia Ribeiro Schneider, Cristiane Budde e Daniela Ribeiro Schneider.

Como fator fundamental para elaboração das matérias, a colaboração da comunidade de Urupema se faz fundamental. O projeto visa a resgatar histórias de vida de pessoas que nomeiam as ruas do Município de Urupema, e, que de alguma forma, contribuíram para o enriquecimento da cultura local. As pesquisas englobam diferentes segmentos familiares e amizades daquele que recebeu homenagem da comunidade.

Nesse intuito, o projeto ‘Urupema Tempo e Memória’ pretende resgatar a memória histórica, pois, se não for resgatada, se perderá no tempo, já que mesmo os descendentes mais jovens das famílias desconhecem a trajetória de vida de seus antepassados.

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