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Covid 19

Vacinas e máscaras ainda são eficientes contra o vírus?

Nos últimos meses, segundo dados do Ministério da Saúde, caiu gradativamente o número de pessoas que procuram os postos de saúde em busca de uma vacina contra a covid. Farmacêutico, bioquímico e microbiologista clínico, Caio Salvino é referência nacional sobre o assunto e, além de explicar as diferenças entre as vacinas, fala da eficácia do uso de máscaras, das mutações do vírus e também dos motivos que levaram à baixa procura pela imunização. 

Confira a entrevista exclusiva ao Folha da Serra|:


Folha da Serra_ A procura por vacinas contra a covid está baixa. O que essa situação pode desencadear?   

Caio Salvino_ Primeiramente agradeço a oportunidade de falar com os leitores do Folha da Serra, que tem feito um jornalismo sério e diferenciado em nossa região. 

As vacinas contra a c19 (SARS CoV-2) não são todas iguais. Há diferenças bastante importantes nelas que eu gostaria de colocar aos leitores do Folha da Serra. A grosso modo, podemos dividir em 2 grupos: as de vírus inativado (Coronavac) e as que utilizam tecnologias genéticas (as demais). 

1. Coronavac: é composta pelo vírus original (selvagem ou Wuhan) inativado, um modelo clássico de vacinação.

Dentro das que usam tecnologia genética, temos as seguintes formulações:

2. AstraZeneca (AZ): vacina que usa modelo chamado “vetor viral não replicante”, contendo adenovírus de macaco como vetor, que carrega informações genéticas que provocam nossas células a produzirem a proteína spike (S) do vírus original (selvagem ou de Wuhan);

3. Janssen: usa o mesmo modelo da AZ, porém, utiliza como vetor um adenovírus humano, mas que também carrega as informações genéticas que provocam nossas células a produzirem a proteína spike (S) do vírus original (selvagem ou de Wuhan);

4. Pfizer: vacina de mRNA que usa nanopartículas de lipídios que carregam em seu interior um fragmento (mRNA) que faz com que nossas células produzam a proteína spike (S) do vírus original (selvagem ou de Wuhan);

5. Pfizer bivalente: idêntica à anterior, porém, também carrega o mRNA relativo à spike da omicron subvariante BA.5;

Respondendo diretamente à sua pergunta, a procura está baixa por uma soma de fatores. 

Primeiramente, porque as vacinas de 1 a 4, estão obsoletas. Tiveram bastante impacto até meados de 2021, ao final da onda Gama e da onda Delta. Com a chegada da Omicron em dezembro de 2021, houve uma mudança radical no relacionamento dos anticorpos gerados pelas vacinas e o vírus em sua nova versão, já que a maioria das vacinas tem como único alvo a proteína spike, e somente no gene responsável por essa proteína, houve mais de 30 mutações, e isso gerou uma proteína extremamente diferente da original, que já vinha sofrendo mudanças a cada nova variante, mas que na omicron se tornou “invisível” aos anticorpos vacinais. 

Porém, a omicron traz uma nova relação entre o vírus e o organismo humano, e para entender isso, é preciso deixar claro que um vírus pode sofrer mutações adaptativas (naturais) ou provocadas (induzidas), sendo no caso da omicron, adaptativas. Ela surge na África do Sul, um continente pouco vacinado, ambiente propício para mutações que trouxeram duas características importantes: replicação preferencial em trato respiratório superior, com redução drástica de casos graves, acometimento pulmonar e doença inflamatória e trombótica sistêmica (grande inflamação e formação de coágulos) e se tornando uma doença benigna, principalmente em relação à variante Gama, com grande tropismo pelas células dos alvéolos pulmonares e que causavam um estrago imenso, inflamatório e trombótico.

A outra característica importante é decorrente da primeira e das mutações na spike: ela se torna incrivelmente infectante e desvia facilmente dos anticorpos neutralizantes gerados por vacinas, assim como pelos anticorpos neutralizantes decorrentes de infecções anteriores, porém, neste outro caso, há os demais anticorpos e o restante da defesa imunológica presente, evitando assim reinfecções altamente sintomáticas, sendo em sua imensa maioria, tão leves que passam até por um resfriado comum.

Então, a soma desses fatos - vacinas defasadas e variante causando doenças leves - fez com que a população se expusesse mais e, dessa forma, tendo inúmeros contatos com o vírus e aumentando sua capacidade de defesa natural contra ele. 

A última versão de vacina, Pfizer bivalente (5) já chegou no mercado após o fim da onda da subvariante BA.5, pois estamos agora lidando com sublinhagens, que desviam dos anticorpos neutralizantes contra spike da BA.5, ou seja, já nasceu “ultrapassada”, sendo que estudos mostram cerca de 30% de eficácia, e apenas contra omicron até BA.5, e isso a população também já sabe.


As vacinas são eficientes contra as novas cepas?  

Atualmente, segundo dados do banco de dados da Fiocruz, até o dia 31/12 ainda havia alguns casos por BA.5, mas esse número caiu drasticamente nas últimas semanas, e ela deu passagem a sublinhagens.

A BA.5 foi responsável por apenas 7% dos casos em dezembro, contra 53,2% de BQ.1.1 e 21,5% de BQ.1.

Além delas, estamos com a XBB e XBB.1.5, que são recombinantes de duas sublinhagens da BA.2, que já passou por aqui e fez muitos casos entre abril e maio de 2022, mas já não estão mais por aqui desde outubro do mesmo ano.

Mas veja: nenhuma dessas novas subvariantes e recombinantes são suscetíveis aos anticorpos neutralizantes advindos de vacinas atuais, mesmo contanto a bivalente.

Nesse momento não temos como afirmar à população que novas doses e reforços irão impedir contágios, mas podemos afirmar as demais informações que colocamos na resposta à questão anterior. Correr atrás de um vírus como o SARS CoV-2 é muito difícil, pois sendo um vírus de RNA de fita simples, ele sofre mutações com enorme facilidade. 

A omicron veio para ficar, adaptada aos hospedeiros. Não vejo mais, como microbiologista, nenhum motivo para pânico, medo, desespero. Pelo contrário. Venho falando com otimismo desde outubro/novembro de 2021 quando o tsunami de omicron começou na África. Fiz uma conta que ficou famosa no país todo, quando calculei que chegaríamos, no pico, a 300.000 casos confirmados no dia, e errei por apenas 1.200. Quando se analisa dados e publicações, tudo fica mais simples e fácil de elucidar.

As vacinas foram muito importantes em 2021, mas depois disso foram perdendo para as mutações. Há vários estudos demonstrando isso.


Apesar do relaxamento do uso de máscaras, o vírus continua letal? 

O relaxamento do uso de máscaras se deu porque a população perdeu o medo do vírus. Tivemos vários eventos grandes sem impacto, em que o espalhamento viral foi, e vem sendo, tão grande e rápido que não há mais controle. 

Muita gente pega c19 e nem sabe, com sintomas leves, não busca atendimento médico - o que ao meu ver é um erro mesmo sendo caso leve - não testa e a vida segue.

As máscaras dos modelos N95 e PFF2 (respiradores) protegem, mas são caras e mal utilizadas em ambientes fora do sistema de saúde. 

Máscaras descartáveis protegem menos, mas se bem utilizadas e descartadas corretamente, são úteis. Já as máscaras de pano não protegem, apenas reduzem um pouco da carga viral, em torno de 40-50%. 

Essas máscaras, além de ficarem sendo colocadas e retiradas o tempo todo e sendo guardadas no bolso, são manipuladas por mãos sujas, não higienizadas com água, sabão e álcool gel.

Vejam ainda: uma gotícula respiratória tem algo em torno de 5-10 micrômetros, ou seja, cerca de 0,0005 a 0,001 cm de comprimento. O SARS CoV-2 tem em média 100 nanômetros de diâmetro, ou seja, algo em torno de 0,1 micrômetro. Se a gotícula possui 10 micrômetros, podemos concluir que pode haver perto de 100 partículas virais a cada gotícula, calculando grosseiramente. 

Por sua porosidade, máscaras de tecido são quase como colocar uma grade na janela para evitar a entrada de moscas, isso sem contar umidade e sujeira.

Quase ninguém, verdade seja dita, usa as máscaras como deveria.


Quem é Caio Salvino?

O doutor Caio Salvino é farmacêutico bioquímico e microbiologista clínico. É membro do Grupo Técnico em Análises Clínicas dos Conselhos Federal e Regional de Farmácia.

É doutor em saúde pública pela UCES/AR, e possui título de especialista promulgado pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas.

É membro efetivo da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, Sociedades Brasileira e Pan-americana de Infectologia, Sociedade Americana de Microbiologia, Sociedade Europeia de Microbiologia e Doenças Infecciosas e da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas.

É CEO e responsável técnico pelo Grupo Laboratório Saldanha, em Lages/SC, e pai da Carolina e da Gabriela.


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