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Inter de Lages

Patrick Cruz

A força dos pequenos
Aquele senhor estava claramente emocionado. Mais do que isso, o que ele experimentava naquele exato instante era uma sensação inédita em sua existência. Dá para imaginar chegar ao fim da vida e experimentar um tipo específico de felicidade pela primeira vez?

“Eu tenho 81 anos. Oitenta e um!”, diz o torcedor.

“Você imaginava viver um dia como hoje?”, pergunta o repórter da TV, talvez imaginando que ouviria o não protocolar de alguém resignado com a eterna derrota, mas que acabou surpreendido por uma inesperada visita da sorte. Não foi o caso.

“Sim”, responde o torcedor, “porque levo [esse clube] no coração de um jeito que você não imagina”. Nisso, ele aperta os lábios e mexe no boné que cobre sua cabeça, tentando tapear o choro que já se insinuava em seus olhos e lhe subia pela garganta. A voz ficou embargada, mas ainda assim ele gritou, e cantou, e comandou a pequena multidão que o cercava.

O episódio acima foi uma das cenas mais marcantes da festa que a torcida do Platense fez no dia 1° de junho, quando o clube tornou-se campeão campeão argentino pela primeira vez. Esse foi, também, o primeiro título do clube em seus 120 anos de existência.

O Marrón, apelido que faz referência à cor de sua camisa, é de Vicente López, o menor município da região metropolitana de Buenos Aires, o que faz dele, na prática, um clube de bairro. O domínio territorial de sua torcida se restringe à vizinhança, e isso é motivo de orgulho.

“O Platense é bairro, é rua”, disse uma jovem torcedora ao repórter de TV que fazia a cobertura da festa do título. “Isso aqui é família”, declarou outro.

As manifestações dos torcedores do Platense no dia da conquista são uma das coisas mais genuínas e belas que o futebol produziu nos últimos tempos. Não se ouviu provocação, xingamento, desabafo raivoso, só palavras de júbilo, felicitação coletiva e puro amor.

“O Platense passou pelas piores coisas. Nós merecíamos essa alegria”, disse um torcedor a um dos onipresentes repórteres de TV. “Essa é a coisa mais grandiosa que já aconteceu na minha vida”, afirmou outro. “Jamais pensei em viver isso”, resumiu um terceiro.

Outro, em um rompante de ponderação no meio da festa, opinou que “os menores, com organização, com laço social, com uma equipe que funciona e com coerência podem chegar lá”. Desde o início, os vídeos e textos sobre o título do Platense me remetiam ao Inter de Lages, mas a observação desse torcedor em particular me lembrou que também o clube da nossa cidade pode sonhar. Vivos estamos, afinal.

Arrematei o raciocínio com o vídeo a que assisti logo em seguida. “O meu velho, que está no céu”, afirmou esse outro torcedor, “sempre me dizia: ‘você vai ver que a hora boa vai chegar, e elas vão vir todas de uma vez’”.

Depois de tanto anos de luta, de amargura, a hora do Platense chegou. A do Inter de Lages, estou certo, está por vir.

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