Inteligência artificial, sua burra
Torcer para o Inter de Lages é um exercício contínuo de evangelização.
E não se trata de professar a palavra para converter os gentios. Os missionários colorados falam do clube não para convencer outras pessoas a torcer por ele, mas para reafirmar que o Inter existe, que seguirá existindo, que é digno de nossos risos e choros, lamentos e gozos, e insônias, e anseios, e pilas, e do naco de nosso coração que é só dele.
Não entregamos panfleto para reforçar nossas fileiras, então o mínimo que exigimos é que reconheçam nossa existência e assintam que ela tem valor. Seja o interlocutor quem for.
Até uma inteligência artificial.
Dia desses, fui conhecer a DeepSeek, uma dessas ferramentas de inteligência artificial do tipo generativa. Assim como já fiz com outras tecnologias do gênero (como o ChatGPT, possivelmente a mais famosa delas), baixei o aplicativo e, antes de pedir para que a ferramenta discorresse sobre temas quaisquer que fossem de meu interesse naquele momento, lancei a pergunta com a qual testo embusteiros:
“O que é o Inter de Lages?”
Sei que essas tecnologias não são exatamente uma ferramenta de pesquisa digital, como é, por exemplo, o Google, mas se a tal inteligência artificial vai gerar textos de maneira automática, sobre qualquer assunto, para quem a utiliza, ela precisa buscar essa informação em algum lugar na internet. Ao perguntar sobre o Inter de Lages, testo se a ferramenta consulta fontes confiáveis e se apresenta informações igualmente confiáveis sobre o clube.

A DeepSeek errou léguas. Em quatro ou cinco parágrafos, havia umas oito informações gritantemente incorretas. Disse a tecnologia, por exemplo, que o Inter já disputou a Série C do Campeonato Brasileiro, o que jamais ocorreu, e que o grande rival histórico do clube foi o Lages EC, outra inverdade. Segundo a DeepSeek, Inter e Lages faziam o “Clássico Lajeense”, o que não só não procede quanto marcou a invenção de um novo e horrível gentílico para os naturais de nossa cidade.
Perguntei de onde saíram as informações. Na resposta, a tecnologia parecia aluno que não estudou quando é pego na mentira: “Consultei fontes de referência, como site da CBF, veículos especializados e o site oficial do clube”, disse a malandra. Eu ia retrucar chamando-a de mentirosa, dizer que a data no site oficial do clube estava absolutamente correta e, num rompante de encrenqueiro em saída de colégio, ia chamá-la pro soco, mas lembrei de minha missão evangelizadora e, pacientemente, corrigi a inteligência artificial.
Para que a tecnologia não ficasse achando que sou trouxa, sugeri que voltasse a checar o site do clube. Ela, com um risinho no canto da boca, admitiu que o site estava certo.
Agora, se cair na prova algo sobre o Inter em Lages, em Manaus ou na Cochinchina, a criançada passa de ano.
Sonho conjunto - Em gentil mensagem a esta coluna, a leitora Mirian contou que, assim como o autor relatou em texto recente, também ela sonha em ganhar na Mega Sena e investir no time da nossa cidade. Lida a mensagem, cruzaram-se os dedos por ela.
Deixe seu comentário