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Patrick Cruz

Inter - 75 anos

O último acorde de Viva

É quando perdemos gente como Vivaldino Benedito Athayde que, mesmo enlutados, ratificamos a alegria anômala de torcer para um time obscuro, que disputa um campeonato chinfrim em gramados indizíveis. Viva, o personagem em questão, foi um dirigente maiúsculo do Internacional de Lages. Deixou tristes os colorados ao falecer em uma sexta-feira já distante da década passada, mas o pranto vai secar – e quando secar, vamos recordar que seu legado não foi a lágrima efêmera, mas a algazarra de quem celebra 

o fato de existir.

Entre as décadas de 1960 e 1980, Vivaldino Athayde ocupou no Inter de Lages praticamente todos os postos possíveis a um dirigente de futebol. Em 1974, presidiu o clube lageano na campanha inesquecível do vice-campeonato estadual. (O Figueirense ficou com o título, mas os torcedores do Inter de Lages tiveram para sempre sua retina benzida pelos feitos do centroavante Parraga e pela classe sublime do cerebral Gaspar, para muitos o maior craque do Internacional na história. Não nos enganemos: os troféus não contam tudo no futebol).

Mas não preguemos em Viva a pecha limitante de ex-cartola. Por décadas, ele foi um afamado, requisitado, célebre (ora vejam!) saxofonista. A veia artística o fez liderar a Orquestra Guanabara, de infinitos serviços prestados à boemia lageana entre 1956 e 1990. A mesma aptidão musical que embalou notívagos e damas da noite deu também ao Inter de Lages um novo símbolo: Viva e outros dois colorados maiúsculos, Armindo Araldi e Nelson Antunes, foram os autores do hino do clube.

A Orquestra Guanabara especializou-se em bailes de Carnaval a partir de 1971, mas nem só de “Ó abre alas / que eu quero passar” eram feitos os acordes de Viva. De seu sax escorriam frevos, boleros, sambas e marchas-rancho, que ora embalavam casais inebriados, ora afagavam a testa protuberante de um neocorno.

O Inter de Lages está apenas na segunda divisão do futebol catarinense, mas o cenário sem pompa não define a estirpe colorada. Figuras como Viva tornam o Internacional um clube único: há cartolas empresários, cartolas médicos, cartolas políticos. Pois em Lages, essa Macondo de bombachas, houve um presidente saxofonista. Lamento pelos torcedores de outros times, resignados com seus dirigentes de parva objetividade.

Vivaldino Athayde dedilhou seu último acorde. Mas reneguemos a melancolia em nome do alto astral das noites embaladas pela Orquestra Guanabara. Levantemos as taças para um viva a Viva. E, trôpegos, cantemos:

“Hoy mi playa se viste de amargura

Porque tu barca tiene que partir

A cruzar otros mares de locura

Cuida que no naufrague tu vivir”


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