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Patrick Cruz

Inter - 75 anos

A força anônima das arquibancadas

"Bergamota. Cachaça. Corneta". Em algum momento da década passada surgiu no meio da torcida do Inter de Lages uma faixa com esse, por assim dizer, lema. Foi em torno dessas três palavras - e de seu amor pelo time, é claro - que os colorados formaram a torcida Teimosos da Geral.

O bom humor do grupo estava implícito: bergamota, como sabemos todos nós forjados no frio da Serra e do cimento das arquibancadas do Tio Vida, já foi um dos itens mais vendidos pelos ambulantes que trabalhavam no Estádio Vidal Ramos Júnior nos jogos do Inter.

A demanda pela fruta crescia na proporção dos erros que a arbitragem cometia contra o time da casa: a cada marcação de impedimento contra o ataque colorado, especialmente os contestáveis (quase disse roubados, mas me contive), choviam cascas, gomos e frutos inteiros no corpo do assistente responsável pela marcação.

Zé Rabelo / divulgação

A intensidade dos arremessos era particularmente forte quando se tratava de um bandeirinha calvo: por algum motivo recôndito, a ira dos vermelhos era ainda maior se o sujeito que se interpunha entre nosso time e a vitória fosse, além de incompetente, careca.

(No futebol brasileiro atual, se uma torcida atira objetos no campo, o time que ela apoia sofre suspensão virtualmente sumária, com multa e proibição de receber público em um ou mais jogos em casa. Que bom que agora é assim. Há de se ter civilidade no convívio entre opostos, afinal. Mas convenhamos que é bem mais fácil manter a fleuma quando não nos esbofeteiam em nosso próprio lar.)

Desde 2013, quando o Inter de Lages deu início a um processo de reinvenção que permitiu a ele não só voltar a disputar a elite do estadual e também competições nacionais, mas manter-se vivo, multiplicaram-se iniciativas como a dos Teimosos da Geral.

Punhados de torcedores, grupos mais numerosos ou mesmo indivíduos que representam ninguém mais do que eles próprios criaram suas torcidas "organizadas", que, muitas vezes, eram, ou são, apenas a união de gente que gosta de assistir aos jogos do time perto uma da outra.

Muitas dessas iniciativas tiveram vida breve. Há quem vá teorizar que isso se deve ao rebaixamento do time neste ano ou a uma ou outra ação de pessoas ligadas ao clube, mas, na verdade, trata-se de uma dinâmica que tem muito a ver com a passagem do tempo: adolescentes e jovens adultos empolgam-se com o time, criam uma torcida, arregimentam mais adeptos, mas a realidade, com seus compromissos de faculdade, o trabalho e a chegada dos filhos, além de eventuais maus resultados em campo, baixam um pouco a fervura. 

Mas o caráter efêmero de alguns desses agrupamentos não os torna menos genuínos. A força anônima das arquibancadas seguirá como o grande trunfo do Inter de Lages. O amor vai perdurar, com ou sem uniformes, com faixas nos braços ou não.


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