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Em função da estiagem, municípios vão decretar situação de emergência

  • Dionata Costa

"Ameaça chuva e não vem. Até a grama está morrendo." O desabafo é de Saulo Andrade, coordenador de produção da Secretaria de Agricultura de São José do Cerrito, município que contabiliza prejuízos nas safras de milho e feijão em função da estiagem. Na Serra, essa também é a realidade em São Joaquim, Cerro Negro, Painel, Bom Jardim da Serra e Urubici, que devem decretar situação de emergência nos próximos dias. A situação é tão séria que Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e parte do Mato Grosso do Sul recorrem ao Governo Federal em busca de apoio na renegociação de dívidas e agilidade no pagamento do seguro agrícola para os produtores rurais.
A situação nos municípios da Serra Catarinense começa a se agravar. A avaliação é do coordenador de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) da Epagri, James Smaniotto. "Os municípios estão em fase de levantamento e monitoramento para apurar as perdas na agropecuária e até a falta de água para consumo humano. Estamos apoiando esse trabalho e muitos devem declarar situação de emergência/calamidade."
É o levantamento das perdas, realizado pela Epagri, que serve de embasamento para os decretos que são enviados para as Defesa Civil estadual e nacional. O envio de ajuda depende da aprovação por parte dessas entidades. Na Serra Catarinense, a maioria dos municípios têm na agropecuária sua principal fonte de renda e desta forma sentem maior impacto

Sem água, as maçãs murcharam
A produção de maçã responde como principal fonte econômica para os municípios da região de São Joaquim e foi seriamente afetada pela estiagem. Os maiores problemas são registrados em solos rasos, onde as plantas têm dificuldade em captar água de lençóis profundos.
O assunto foi discutido em reunião, segunda-feira (3) em São Joaquim. A Associação de Produtores de Maçã e Pêra de Santa Catarina (Amap), Epagri e as prefeituras de São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Urupema e Urubici participaram do evento.
A estiagem prolongada provocou danos severos em pomares plantados em locais com solos mais rasos. O calibre (tamanho) dos frutos, principalmente da variedade gala também está comprometido. Com isso, o volume de produção de 2022 deverá ser reduzido em consequência da estiagem.
E se não chover regularmente, haverá danos também na produção de 2022, já que as flores que se tornarão maçãs na próxima safra são formadas nesse ciclo.
"A primeira segunda-feira do ano foi de preocupação em relação ao fator estiagem. Muitos prejuízos em diversas culturas, não só na maçã mas em outras culturas de alimentos. Fizemos essa reunião com os demais municípios, para que juntos possamos elaborar um decreto de Emergência ou de viabilidade junto ao estado de Santa Catarina para que a gente possa amenizar os prejuízos aos nossos produtores." Afirmou o prefeito de São Joaquim, Giovani Nunes.
Além de São Joaquim, os municípios de Bom Jardim da Serra, Urupema e Painel também relataram prejuízos substanciais em seus pomares. Lembrando que a agricultura é o carro-chefe da economia destes municípios e representa quase que a totalidade do movimento econômico e da geração de emprego e renda.
"Tivemos a iniciativa dessa reunião emergencial, porque já temos danos irreversíveis na questão da maçã. Muitos produtores entraram em contato com a Amap relatando os prejuízos que estão ocorrendo na safra deste ano," explicou Diego Nesi, presidente da Amap.
Em Urubici, a prefeita Mariza Costa destacou que a estiagem tem prejudicado tanto a produção de frutíferas, hortaliças e a pecuária. A produção de leite é uma das mais afetadas, já que a produção de milho, principal insumo para a ração animal, não se desenvolve como deveria.

Lages cadastra quem precisa de água
A Secretaria de Agricultura e Pesca de Lages realiza cadastro das propriedades que já enfrentam problemas com abastecimento de água potável para consumo humano. A comunidade afetada deve fazer contato com a secretaria no telefone (49) 3019 7476, para apresentação de dados da propriedade e do proprietário.
Esta iniciativa considera os efeitos da estiagem e as chuvas abaixo da média neste período do ano e, consequentemente, a seca de nascentes e de outros pontos de coleta de água potável em diversas localidades do interior do município.
O secretário, Thiago Henrique Cordeiro, explica que este levantamento será repassado imediatamente à Defesa Civil Municipal para a realização dos atendimentos necessários.
Estados do Sul pedem apoio ao Governo Federal
Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e parte do Mato Grosso do Sul recorrem ao Governo Federal em busca de apoio na renegociação de dívidas e agilidade no pagamento do seguro agrícola para os produtores rurais. Nesta segunda-feira, 3, os secretários da Agricultura dos quatro estados participaram de reunião virtual com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SPA/Mapa), Guilherme Soria Bastos Filho, para apresentar os cenários e as demandas.
"Essa reunião foi resultado de uma conversa que tivemos com a ministra Tereza Cristina na última semana, quando relatamos as dificuldades enfrentadas pelos produtores catarinenses. Nós estamos direcionando nossas ações para agilizar os decretos de emergência dos municípios e também a elaboração dos laudos para liberação do Proagro. A nossa solicitação principal para o Ministério da Agricultura é a criação de um crédito emergencial para aqueles produtores que perderam sua fonte de renda", destaca o secretário da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina, Altair Silva.
50% de quebra na produção de milho
Em Santa Catarina, as regiões Extremo Oeste, Oeste e Meio Oeste são as mais afetadas. A média atual de precipitações nesses locais é de, respectivamente, 20, 31 e 46 milímetros - sendo que o esperado seria uma média em torno de 150 mm. A principal preocupação do setor produtivo é a quebra na safra de milho - tanto milho grão quanto silagem - que deve impactar diretamente as cadeias produtivas de carne e leite.
O secretário Altair Silva explica que no Extremo Oeste a colheita de milho esperada deve ter uma redução de até 50% e a expectativa de safra estadual já está sendo reduzida. "Nós esperávamos uma safra voltando à normalidade com 2,7 milhões de toneladas colhidas, já estamos revendo esses números e talvez nossa colheita não passe de 1,9 milhão de toneladas. O que atinge diretamente o setor produtivo de carnes e leite, sem contar o prejuízo dos produtores de grãos".
Até segunda-feira, o estado contava com 67 municípios com decretos de emergência publicados ou em vias de publicação e 1.500 famílias rurais que perderam sua fonte de renda devido à estiagem, principalmente produtores de grãos e silagem.

Situação semelhante
Nos outros estados do Sul, a situação é semelhante. Segundo o secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, os prejuízos calculados são bilionários, principalmente nos cultivos de soja, milho e feijão. "Nós trabalhávamos com uma colheita de 21 milhões de toneladas de soja, hoje já reduzimos a expectativa para 13 milhões de toneladas e esse quadro tende a ter uma evolução para pior". No milho, o cenário é ainda mais preocupante. O estado pretendia colher 4,2 milhões de toneladas e reduziu a estimativa para 2,4 milhões de toneladas. São 144 municípios paranaenses com decretos ou sinalizando fazer decretos de emergência. No Rio Grande do Sul, são 110 municípios afetados.
Foto principal: Estiagem maçã 6
Legenda: Parte da safra da maçã está comprometida. Sem água, frutos estão murchos
Crédito: Dionata Costa / Divulgação
Foto: Estiagem Epagri
Legenda: Epagri avalia prejuízos em toda a região
Crédito: Epagri / Divulgação
Foto: estiagem São Joaquim
Legenda: Em 2019, rio que abastece São Joaquim praticamente secou
Crédito: Casan / Divulgação

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