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Debate

E se as enchentes do RS fossem em Lages? Qual seria o impacto?

  • Gugu Garcia / Divulgação

O assunto motivou a criação de um grupo de debate e Plano de Prevenção às Enchentes deve ser apresentado na Câmara de Vereadores

A tragédia climática, que provocou destruição e centenas de mortes no Rio Grande do Sul, reacendeu o temor da população brasileira em relação à prevenção. Em Lages não é diferente. Segundo o engenheiro Sérgio Todeschini, um grupo de debate com profissionais e especialistas está sendo estruturado e a primeira reunião será no dia 3 de julho, no II Fórum de Drenagem Urbana, no Auditório do Ministério Público. Para o dia 5 de julho, o vereador Eder Santos (Podemos) requereu a realização de sessão especial para apresentação do Plano de Prevenção às Enchentes. A sessão será realizada às 19 horas na Câmara de Vereadores de Lages.

Historicamente, Lages enfrenta problemas pontuais de enxurradas e também de enchentes. É claro que, felizmente, nenhuma se aproximou da proporção registrada do Rio Grande do Sul, com mais de 700 milímetros em uma semana. No próprio site da Câmara de Vereadores há registros de discussões em 2012 e 2013 em busca de soluções definitivas. Os pontos que apresentam problemas, geralmente, são os mesmos: enxurradas no alto do Bairro Santa Helena e no Guarujá e inundações no entorno do Rio Carahá, do Centro da cidade, até na sua foz com o Rio Caveiras. Outros bairros também são afetados, a exemplo do Caravaggio e Ferrovia. 

No decorrer dos anos, algumas ações foram realizadas na tentativa de minimizar os efeitos, elas estão elencadas mais à frente neste texto, mas estudo de 2019 é considerado o divisor de água neste processo (Meta 4 – Modelagem Hidrodinâmica: relatório técnico circunstanciado dos cenários I e II / coordenação Sílvio Luís Rafaeli Neto. – Lages : Udesc/CAV, 2019) Trata-se do Projeto Hidro-Lages, feito em parceria entre a Prefeitura Municipal de Lages e a Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias ao custo de quase R$ 1 milhão. .   

Como base, este estudo utilizou uma enchente registrada em 2005. Analisou as áreas alagadas, as causas e efeitos. Uma das causas já é de conhecimento popular, o Rio Caveiras enche e represa as águas do Carahá e do Rio Ponte Grande. Na PG 83, o estudo mostra o comportamento da água do Carahá, que próximo da foz (encontro com o Caveiras) tem velocidade entre 0,15 a 0,45 m/s, quase parada. Na PG 86, a afirmação é que “enquanto a cota do próprio Rio Caveiras não tiver diminuído, a do Rio Carahá também não será mitigada”. Ou seja, algo precisa ser feito no Caveiras.  

Barragem da Garganta do Diabo  

O primeiro projeto de uma barragem na Garganta do Diabo foi sugerido, em 2016, pelo ex-secretário de Meio Ambiente, Mushue Hampel, quando ocupava uma cadeira na Câmara de Vereadores de Lages.

Ele temia que um acidente com um caminhão na SC-114 poderia contaminar a água, que também é usada pela Ambev, o que representaria prejuízos financeiros e inviabilizaria o abastecimento da cidade. Na época a obra foi orçada em R$ 3 milhões.

Em 2019, com recursos da Prefeitura de Lages e do Ministério de Desenvolvimento Regional, o Centro Agro Veterinários (CAV/Udesc) realizou amplo estudo melhorando a ideia inicial que era apenas a de evitar contaminação da água.

O estudo analisou os rios Carahá e Caveiras com o objetivo de apontar a viabilidade de medidas para mitigar enchentes, enxurradas e inundações. 

Segundo o engenheiro Sérgio Todeschini, o trabalho feito pelo CAV é muito bom. Apontou que a construção de uma barragem pode não ser a solução definitiva, mas a exemplo do que ocorre no Vale do Itajaí, a construção pode ser utilizada para regular a vazão do Rio Caveiras, facilitando temporariamente o escoamento das águas do Carahá. 

“A barragem pode ter várias finalidades: amenizar enchentes, captar e tratar a água para Lages e ainda gerar energia por meio de uma PCH. Esse investimento poderia ser feito via Parceria Público Privada (PPP)”, avalia o engenheiro. Todeschini comenta que atualmente a água é captada e bombeada até a estação de tratamento na Várzea. Caso o tratamento fosse implantado junto à captação, a prefeitura não precisaria gastar com energia elétrica, já que a água seria transportada pela gravidade.”

Como o estudo levantou todas as bacias de contribuição e mediu vazão de rios. Pode ser usado pela prefeitura para fazer os trabalhos de microdrenagens.

O estudo permite saber que tipo de tubulação e para onde essa tubulação será destinada até chegar ao rio. Desta forma, pode-se evitar novas regiões de alagamentos até em regiões altas que são inundadas, não em função da influência de rios e sim porque a tubulação não foi dimensionada corretamente. 

O que já foi feito

Na gestão de Fernando Coruja (93 a 96) decidiu-se por cortar uma alça do Rio Caveiras acelerando o fluxo. Imediatamente a medida reduziu os efeitos das chuvas e as enchentes. Como, com o tempo, a cidade passou a ter mais ruas asfaltadas e mais construções que impermeabilizam o solo, a ação perdeu parte da eficiência.

Na gestão de Raimundo Colombo (2001 a 2006) a ponte do Caça e Tiro foi elevada, uma tubulação existente na lâmina de água do Rio Carahá foi retirada, já que obstruia a passagem da água sempre que o rio enchia. Uma curva do mesmo rio também foi retificada.

Na gestão de Renato Nunes de Oliveira (2006 a 2012) cortou-se parcialmente outra alça do Rio Caveiras. Parcialmente, porque se manteve a vazão necessária no ponto de captação da Usina da Tractebel (Engie). O leito do Rio Carahá foi construído novamente da ponte da Habitação até a foz. O objetivo foi facilitar a entrada das águas no Rio Caveiras. O pequeno caimento no trecho de 600 metros impediu que a ação tivesse um resultado melhor. 

O que ocorreu no Rio Grande do Sul

O portal G1 (Globo) publicou matéria com o título “Uma combinação de fatores explica impacto devastador das chuvas no Vale do Taquari”. O texto, escrito no início de maio, segue abaixo e explica em detalhes o que ocorreu. 

Mais uma chuva acima do normal e, mais uma vez, as cidades do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, estão debaixo d’água. Em setembro, a passagem de um ciclone tropical deixou casas submersas e matou 54 pessoas. Dois meses depois, tempestades deixaram mais cinco mortos.

Agora, as chuvas começaram no início de abril. Até o dia 18, choveu 230 milímetros na região central do vale, já acima da média para a região, que é de 151 milímetros. O nível do rio subiu e começou a invadir as cidades.

E de 28 de abril até esta quinta-feira (2) de manhã, foram mais 501 milímetros, em quatro dias. O solo já encharcado ajudou a água a correr das cabeceiras dos rios menores até o Rio Taquari e inundar cidades. 

O meteorologista Gilvan Sampaio explica que três fenômenos se somaram. Da Amazônia, vêm ventos úmidos (frente fria). E, no centro do país, uma área de alta pressão não deixa as nuvens passarem. Elas estão estacionadas e provocam as chuvas constantes.

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